2010-10-26


tanto ruído
à procura de silêncio

e encontrado
encontra-se o mundo perdido

o silêncio é um amplificador

do espaço
do tempo
da solidão
da dor

Pedro

2010-10-21


- pai, fazes-me o nó nesta gravata?

pedido do meu irmão
também eu recorro ao mesmo processo

digo
um dia o homem fina-se
e a gente amofina-se

risos

Pedro

2010-10-17


que idade é esta
em que o bater de asas
de uma borboleta
viva
tem menos que ver com poesia
e mais com teoria do caos

Pedro

2010-10-15


o governo prevê
crescimento económico
para 2011

deixa-me rir
que há muito
não chorava

Pedro

2010-10-13


um beijo
um sorriso
quente
o universo

Pedro

2010-10-12


sentes as rodas que tocam a pista
o avião que resvala
de lado
recompõe-se
endireita-se
sentes-te suspirar
ainda não foi desta

Pedro


por entre o ar da nuvem
passei
a caminho
de ti
o ar que me susteve
até me encontrar
para lá de mim
no chão

saí do aeroporto
estavas à porta
não sabes
das minhas saudades

Pedro

2010-10-11


há sempre tempo
até ser tarde demais

Pedro

2010-10-10


a vantagem do tempo
é que é inesgotável

passa
mas não acaba

Pedro


os anjos existem
sabes
porque vejo essa existência
sabes
a beleza infinita que um anjo é
concreta física palpável próxima
quando te toco e envolvo
o momento do paroxismo
o teu rosto no orgasmo

Pedro

2010-10-09


na noite da minha insónia
vi-te
o corpo que dormia
a espaços encostado a mim
as mãos a percorrer-me
as pernas as ancas a pele o sexo
à noite vi
o teu corpo
o desejo vivo

Pedro

2010-10-08


olhar para dentro
longe ou perto
é o conforto de ser dentro
que o faz mais perto

Pedro


olhar a solidão do outro é olhar a solidão própria

Pedro

2010-10-07


passear
as mãos dadas
entre árvores e folhas
o jardim
no olhar o longe
no entre o olhar dos teus olhos
sentir-te
rosto cabelo lábios beijos
sentir-te
desejo
quente o encontro amor

Pedro

2010-10-06


o fim do começo sem fim

Pedro

2010-10-05


como o começo sem fim
tem um fim o começo

Pedro

2010-10-04


escrever é amar
como amar
com tempo
o lento pressa
o vagar vagaroso
o momento instante
o eterno fugaz
o verbo suspenso
a acção subtil
o toque fá-lo
o tempo mil

Pedro

2010-10-03


o governo mente
e de repente
o sol deixou de brilhar
os arautos da desgraça
que não tinham razão
afinal
só tinham razão

não é o governo que vai nu
é o governo demente
que já não desmente
pois que sempre mentiu
e agora mais mente
por mais quanto tempo
oh gente

Manuela, volta
estás perdoada

perdoa-se-te a má pose
a figura pouco abonada
a gaguez de alguns discursos
perdoa-se-te tudo
volta
que não te queria dar razão
mas que Deus me perdoe
és bem capaz de ter razão

"e até não sei, se a certa altura, não é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então, venha a democracia"

esta porcaria precisa de ordem
precisa de quem não mente
de quem não se abotoa
precisa de gente

esta gente
não é boa gente

Pedro


chove
como te odeio
que chove
sem ser ódio
que chove
só porque me atrasas
que chove
e eu sou tão preguiçoso molhado

sair até ao fundo da rua
que é um bom pedaço longe
e pensar que vou e chego molhado
que bela a ideia me parece de não ir

Pedro

2010-10-02


durmo
que ainda acordo
o sabor do teu quente
o corpo que acordo

Pedro

2010-09-30


ladrões
e outras palavras
que rimam com ões

Pedro

2010-09-26


uma vida sem mortes é um bocado vazia

Pedro


para que há-de uma pessoa preocupar-se
se da vida não sai sem morte

não há que ter pressa

Pedro

2010-09-24


vinha no metro a olhar as pessoas que saíam e entravam nesta sexta de noite e as pessoas são todas iguais aqui e em qualquer lugar quer se queira quer não entre estas e Portugal os sorrisos são os mesmos uns são muito tristes e outros que tristes são entre uns poucos o rosto calmo e nisso os tristes são mesmo tristes em Bruxelas ou noutro lugar a tristeza é universal

Pedro


caminhava à frente deles
as mãos atrás das costas

e diz a minha filha
caminhas como o avô

e eu
deve ser genético
e ela
é querido

querido é ouvir-te isso
querida

com conhecimento para o avô

Pedro


o raio de luz entrou
sem pedir licença
e a sombra iluminou-se

Pedro

2010-09-23


era noite escura
escura
e pela noite escura
escura
perdi a minha sombra

Pedro

2010-09-22


quando morrer vou ter o tempo todo

Pedro


quando nos morre alguém
de que sentimos realmente a morte
parece que o vazio vem
a cobrar alguma dívida que não percebemos

e o pasmo
é mais que o vazio

Pedro


a minha tia morreu
o meu pai flipou

o meu orientador morreu
eu flipei

quando o meu pai morrer
o que farei

Pedro
um orientador sempre é um pai científico

2010-09-20


o meu reflexo vê-me

eu vejo que me vê

diz-me
- vejo-te
sem eu me ver

eu reflexo vivo
penso
quem é o morto

Pedro


o tempo
que me faz
faz-me o tempo
que me fez
passos adiante
paralelos
atrás
um tempo faz
um outro fez

Pedro

2010-09-19


fiz um peixe supimpa
gostei muito do peixe que fiz
não sei se gostou de mim

Pedro

2010-09-16


as horas e o minutos
desta chuva
miúda
que tempo
miúda
que tempo de chuva miúda

Pedro


olho-te nos olhos
e sorrio

Pedro

2010-09-14


que Pedro sou
que poeta serei
das palavras os sons
o silêncio direis

2010-09-13


de um ao outro lado
da água
navegantes

é só um copo
e no entanto

Pedro

2010-09-06


fico péssimo quando te vais embora

as saudades começam antes de partires
ainda estás presente e já te sinto a falta

é uma parvoíce que não consigo evitar
tento estar sorridente
alegrar-me
mas tu notas sempre

perguntas-me porque estou triste
respondo-te que estou cansado

quando voltaste a perguntar
não te menti
disse-te
fico sempre com muitas saudades tuas quando partes

também fico com muitas saudades tuas
mas ainda aqui estou
e vamos estar juntos nos santos

a tua alegria contagiou-me
e os últimos dias foram melhores

as saudades que me fazes

Pedro

2010-09-03


passei na estrada
passei o passeio
passei o túnel
sentei-me a olhar

a areia o ar o mar a linha ao fundo de azul entre azul

um beijo
um olhar
um rosto
o estar

dos teus olhos o fundo
o fundo o fundo

Pedro


a mesa
à janela
não sai do lugar

por onde o lugar
da janela
o olhar

Pedro


eram duas ou três
não mais
e do que esqueci
lembro-me

Pedro

2010-08-31


amo-te
no que me complemento
tão nu
tão cheio

Pedro

2010-08-30


a primeira regra para o amor verdade
deveria ser no teste do espelho verdade

o olhar sobre si despido o reflexo
do olhar entretido num outro sem nexo

Pedro


que amor amor / amor que é
amor de amor / desamor que é

Pedro


um pinga
o outro respinga

e um pingo
entre um e o outro
pinga

trocando voltas
de volteio trocado
respinga o que pinga
pinga o voltado
amores fenómeno
amores furados

Pedro


o dia que era
hoje é

Pedro


o cavalo morto
corria
o cavalo morto
relinchava
o cavalo morto
no prado
o cavalo morto
sonhava
o cavalo morto

Pedro

2010-08-29


da carne
ao objecto
do sublime
ao profundo
vejo-te os olhos o rosto
os lábios o gosto
um estar cheio
tão pleno o gozo

Pedro

2010-08-26


quando nasci
vinha comigo um envelope

dizia
"esmagar para viver"

ouvi estilhaços
abri o envelope
com mil cacos de reflexos
de um espelho partido

numa linha de instrução
"segue o teu reflexo"

Pedro

2010-08-18


para várias e outros vários
de abraços e beijos bons
obrigado eu
com abraços e beijos e beijos e abraços
os abraços apertados
em laços de beijos

:-)

Pedro

2010-08-13


que conversas tantas
entre legendas desditas

Pedro


está entre as palavras ditas
o ar por que pensas

Pedro


uma obsessão
é uma observação
permanente

Pedro


só encontro sentido
no sentido

Pedro


como é que vives
vida
e poesia
dia a dia

Pedro


às três da madrugada
era manhã
e eu dormia o sono
lento
de quem se deita tarde
a mão
algures na cama
mas não na coxa da mulher
que não dormia ali

às três da madrugada
era cedo
e os sonhos novos

Pedro

2010-08-12


quando o passado não é presente
o presente é futuro

Pedro

2010-08-11


ele há dias
(e as noites, dela?)

Pedro


beijava-te agora
porque sim
que os beijos assim
são tão sim

Pedro

2010-08-09


as saudades são um objecto estranho
de presente
e antanho

Pedro


what can one say
not yet said
a smile a play
the world the set

Pedro

2010-08-08


de nós
que nós

Pedro

2010-08-07


há cadáveres mortos
e cadáveres vivos
e vivos cadáveres
como cadáveres mortos

que mortos cadáveres
desfizeste esqueletos
que também há mortos
em esqueletos vivos

Pedro

2010-08-06


nenhuma morte é trágica
nenhum adjectivo
a morte é

Pedro

2010-08-05


no beijo
que dês
o beijo
que vês
no beijo
que lês

Pedro

2010-08-03


o filtro
o pó negro
a canela
a água
o botão
o tempo de espera
de um pouco mais
e um café preto amargo e canela
no tempo do sabor

Pedro

2010-07-30


faz noite
um cão ladra
não me acorda
penso
que o tempo passa e não é tudo igual

Pedro

2010-07-28


o sal
variável
como imagem fugidia
de um dia adentro de outro dia
a cada dia
sal novo
o novo dia

Pedro

2010-07-27


foi há um ano
a operação delicada
de recuperação lenta
que depois

Pedro

2010-07-26


o ir
o vir
devir

Pedro

2010-07-25


de todas as viagens
volteio contigo

Pedro

2010-07-24


ir é importante
o regresso é mais

Pedro

2010-07-23


ilusão não é o que vemos
é o que queremos ver



Pedro


penso em ti
distante
e no carinho que te quero
que penso em ti
tanto
o beijo de boa noite
que te quero

Pedro

2010-07-21


quando um silêncio é

Pedro

2010-07-19


todos os dias banais são dias excepcionais

Pedro

2010-07-18


o amor
amor
é tanta ternura

Pedro



contigo
o imenso de pleno

Pedro


no quente
que me aqueces
o quente
que te amo

Pedro


no silêncio do teu respirar
o cheiro a sexo de amar-te

Pedro


um só verso
entre silêncio só
só um poema completo

Pedro


que anos passam
que a memória fica

Pedro

2010-07-17


a saudade
é assim que se faz
presente

depois demente

Pedro

2010-07-16


bom
e
imperativo

o beijo

Pedro

2010-07-15


a memória
não substitui
desafoga

Pedro

2010-07-14


pouco a pouco
que sabe
a tanto

Pedro

2010-07-13


clara
brilhante
luminosa
cegueira de luz

Pedro


o tempo chegado
a falta
o passado

Pedro

2010-07-12


da memória
o tempo
viva

Pedro

2010-07-11


recebeu a carta
que leu
por entre um rasgo

Pedro

2010-07-10


suor
amor
é vida

Pedro

2010-07-09


entre
por aí
e aqui
que espaço

Pedro

2010-07-08


macio
claro
delicado
morno

na memória
para sempre

Pedro


esse primeiro momento é magia

Pedro

2010-07-07


deixei a máquina do café armada
que às sete em ponto principia
a química por dentro irreversível
sabores quentes novos e iguais

Pedro


se reparares
rodeias-te
de mares

Pedro


quanto um mar
pode ser separação
união
individualidade
comunhão

Pedro


quanto de um mar
se pode fazer
do mar amor

Pedro


à noite
o cheiro de café preto amargo
acorda-me
de dia

Pedro

2010-07-06


deixar que o tempo te escorra
pelo corpo como o suor marca
um tempo de amar amor sem tempo

Pedro


com palavras te olho
com sorrisos falas-me
como palavras que olho
nos sorrisos que sinto

Pedro


a salinidade variável
o suor
amor

Pedro

2010-07-05


é uma sensação engraçada
chegar a um lugar longe longe
só pelo desafio
sem se saber o que se vai encontrar
só pelo desafio de ir

Pedro


eram
curvas
estreitas
escuras
húmidas

agora
deslumbre

Pedro


olha como peça a peça devagar

Pedro


fui
voltei

no entretanto

Pedro


quando te conheci
não passavas de uma imagem
para ti eu imagem
que conhecimento viver em ti

Pedro


diferentes
iguais
sentimentos
olhares iguais

Pedro


à uma
desde ontem

já parece uma eternidade

Pedro

2010-07-04


que silêncio

Pedro

2010-07-03

2010-07-02

2010-07-01

2010-06-30


não terminar na tónica
na música
como em toda a outra música
um exercício pleno

Pedro


deixa-me dizer-te um segredo

Pedro

2010-06-29


querido diário

ontem à tarde o meu pai levou-me a passear
fomos ver um cabo
e lá estavam pegadas de dinossauro
que se viam muito mal
mas o meu pai disse
estás a ver aqui, diz que estão as pegadas ali
eu já estava farto, queria ver o big bang
e o meu pai disse
aproveita este ar
e depois voltámos para casa
que ele também queria ver o big bang

filho

2010-06-28


do calor que se liberta
o cheiro do teu calor
um sabor que saboreio
a saber a mais que amor

Pedro

2010-06-27


entre um e outro
um tempo outro

Pedro


era de mansinho
lentamente
que saía

pé ante pé
no silêncio
o café

canela
preto
o cheiro

acordavas o sorriso grande
um beijo o travo amargo

que preguiça boa
acordar-te molhada

Pedro


há tempos que o espanto não dilui

Pedro


um vale
inundado
enrugado
de lençóis

Pedro

2010-06-26


o beijo
entre um
e outro
lábio

Pedro


é lento o chegar
tão rápido o partir

Pedro


se tudo é igual
a consciência da diferença
não é igual

Pedro


a palavra faz-se lenta
tão lenta
abandono
geme gemido

Pedro


tempo suspenso
sorriso eterno

Pedro


pelos lençóis alvoroçados
a calmaria
do mar envolto tempo
o grito
poesia

Pedro


no livro devagar que faço
ar entre as folhas
o espaço do poema

Pedro


saí
lembras-te
cedo
que o meu sono ficou contigo

depois logo antes de partir
voltei atrás
dormias o meu sono solto

Pedro


uma e duas vezes
não mais
devem ter sido suficientes

depois olha
olhámos
e ainda

Pedro

2010-06-25


do olhar da criança que se pasma
o olhar da criança que se plasma

Pedro


se o meu olhar te tocasse
como te olho
ah se o meu olhar tocasse
como te toco

Pedro


leio
e percebo
onde o que leio
me preenche
cada poro da pele que sente

Pedro

2010-06-24


como fazer imagens de palavras
por entre sorrisos de lábios
entre miragens e margens
duns quantos sorrisos vários

Pedro

2010-06-23


sentir o teu corpo
como quem sente o rio
que passa mansamente
enquanto beija margens

Pedro


lembro-me

do toque da tua pele
do toque dos teus lábios
do toque da tua língua
do toque do teu olhar
do toque do teu corpo
do toque do teu sexo
do toque do teu rosto
do toque do teu amor
do toque dos teus dedos
do toque dos teus cheiros
do toque dos teus sons
do toque dos teus sorrisos
do toque do sono
do toque do lençol
do toque do presente
do toque de ti
a cada manhã de acordar

Pedro


porque a vida só vale a vida que é feita vida mudança
entre vida corrida e flor garrida esperança

Pedro


uma dor de quem me tenha
minha
diminuída no partilhar

a tua dor que eu viva
encontro
de momento de amar

Pedro


quando a chuva cai
como cai a chuva que cai
que cai como a chuva que cai

há uma chuva
imensa
entre um olhar
e um sorriso triste

Pedro

2010-06-22


disse a flor
à flor
flores

Pedro


o melhor de tudo
é tudo

Pedro


e o guerreiro cansado
deu passos lentos mas seguros

e riu-se
no olhar em que se perdeu

Pedro


vi agora um mupi bonito
com imagem e palavras
da edilidade lisboeta
um obrigado Saramago

ao mesmo que agradeceu
com um obrigadinho
não vejo que agora não chegasse
um outro obrigadinho

:-)

Pedro

2010-06-21


a rotina
precisa
de um espaço
um tempo
um gesto
um calor
um olhar
um sorriso
um acordar
um sentido
ideias
partilhas
e a palavra
amor

Pedro


estar calado é tão importante
como expressar o que não digo

Pedro


a filigrana do que me dizes
prenha-me meandros

Pedro


por debaixo do tampo de silêncio
o deserto é imenso

Pedro


só escrevo o que sinto
se não escrevo não sinto

Pedro

2010-06-20


supõe
o real
que bate
leve
como quem se inspira
em ti
e nesse bater
bate
com tempo
bate
por fim

realizas dor
incontornável

só tens que optar

dás-te ao sentir
ou finges que sentes

Pedro


sou marinheiro esquisito de palavras
naufrago
por onde leio ou escrevo
quantas vezes

insisto no retomar
do mar e palavras
que me afogam

um livro livros
de onde saí vivo
um poeta nu que me desnudou
de um jorge sousa de braga
aquilo afogou-me inteiro
e lançou-me à praia

comi areia
vomitei algas
e aos peixes disse nada
que era deserta
a falésia alta

de onde vim
o caminho que vi

não sei
não sei o que vi
não sei o que vejo

deixo ser-me só

Pedro


dizia-lhe
vai ser melhor
sabendo do talvez que saberia
dizia-lhe
vai ser melhor
como sabia
que não sabia o melhor que seria

Pedro


queria mandar uma carta por aqui
que estou contente
mando uma carta para ti por aqui
com remetente

Pedro

2010-06-19


do poema
o teu corpo
linhas
que me seduzem
as palavras rolam
e a língua as diz
como dizem corpos
em amor
meu amor

Pedro

2010-06-18


do silêncio que chega
chega que silêncio

Pedro


o vazio
está
onde já esteja

Pedro


a caixa
desencaixa
de que ar
a forma

Pedro


um compasso
só isso
eterno
desiderato

Pedro


a
voz
cala-se
que
voz
se cala
a
voz
que
sois

Pedro


entrega-te
deixa
ir o tempo que é
do tempo que foi
és
o tempo que serás

Pedro

eu


assim o tempo absorve
tudo o que morre

há um morrer eterno
outro ressuscitado

depois de morto que vivo
de que morto vivo

Pedro


poeta sou
que sei
eu
de que
poeta
seja

Pedro


há um grito sem dor
lento
sussurrado
entre forma geometria
grita grito
depois ri
o grito a fazer de dor
dor entranhas
alegria
dor
disfarce
que fazias

Pedro


verdadeiro
dentro
essencial
eu
universal

Pedro


ir
por aí só
ir
de regresso não conhecido
ir
contigo
ir
por uma vida
ir

Pedro

2010-06-16


foi que te pergunto
mimo
com o tom que conheces
conhecem os nossos passos
caminho
os passos que conheces

são os afagos que sabes
afagos como carícias
passos entre caminhos
dos sorrisos que sabes

Pedro


quanto muito é a escrita
do que há por escrever

muito o quanto que é ler
do sentir que é escrever

Pedro


quando a palavra se lê
sou eu que leio
ou a palavra que lê?

Pedro

2010-06-15


todo o tempo é temporário
entre mim e que ideário

Pedro


há um texto contexto com texto
que despercebo entendo
como filigrana de letras infusão
o tempo deixa que assente
lento devagar partículas de sentido

Pedro


que dias são os teus olhos que passam
que olhos passam que são os teus dias

Pedro


como dias são os teus
sorrisos
como dias que passam
são os teus
olhos
como dias cheios que são
sorrisos
como dias achados
são os teus
olhos
dias que passam achados que ficam cheios

Pedro

2010-06-14


que palavras escrevo que leio
que escrevo que leio
entre palavras ouvidas
entre palavras corridas
entre palavras os sons
significados almas
o sentir eu
sentido de palavras

Pedro

2010-06-13


voo o físico pensamento tão em ti
que me sinto em ti físico para lá do pensamento

Pedro

2010-06-12


que distância curta
entre o ar que nos toca

Pedro

2010-06-11


procuro tão só
forma e significado
não só o significado
nem a forma só
só a forma significado
de algum significado

Pedro

2010-06-10


deixo-me ir
que não paro
agora

como não ir
sem parar
por onde ir se vai
como quem vem

Pedro


quando te sinto
à pele
o toque
quando
esse sentido
à pele
o toque
tanto
esse amante
na pele
no toque
manto

Pedro


o tempo parece ser
insistente
quando de ti aparto
no existir por
encanto
entre ser e enquanto

Pedro

2010-06-09


amanhã vejo-te com olhos de saudade
como te vejo agora com olhos de saudade
à distância de um beijo instante
à distância de tempo instante

Pedro

2010-06-08


que silêncio está
no olhar
dos amantes

Pedro

2010-06-07


a subtileza de uma palavra
e outra e outra e outra
é que às vezes
basta nenhuma

Pedro


doces
beijos
roubados
doces
gulosos
provados

Pedro

2010-06-06


e como não ter o prazer
de escrever pelo prazer
de ler-se com o prazer
de tão só ler em prazer

Pedro

2010-06-05


passo o dedo entre os teus seios
é um arrepio que sentes
como se fosse de ar
o arrepio que sentes

dispo-te o que me despes
num devagar apressado
como se fosse pressa
o que sentimos presente

amo-te como me amas
entre o gemido ondulado
com todo o ser entregue
este presente que sentes

Pedro

2010-06-04


um beijo é
um beijo
que me faz falta

Pedro

2010-06-03


as amoras são o fruto do amor
porque são
as amoras amor

Pedro


quando o amor
encontra o amor
que amor não há
que amor há
que amor é
que amor será

Pedro

2010-06-02

de que sons saudades


toca uma tecla
tão só somente
que de entre o só
que seja o som somente
seja o som semente
de sons entrementes
entre um som somente
e outros sons sementes

entre um ou outro som
não te faltarão sons

Pedro

2010-06-01


que sons toca
o piano
de teclas
transparentes
ao olhar
reluzentes
do tempo só
passar

Pedro

2010-05-12


à noite é quando o tempo chega e não parte

Pedro


era magro, postura inteira, sabedor

até lhe ser pedida informação factual

quando os passos seguiram o barro original


de castelos olimpos raios poderosos
grãos areias as cartas os baralhos
vi-te o olhar perdido em que queda
de verdades o conhecimento osmose

alma minha ou tua que partida
de que fôlego o tempo virtuoso
alma feita de tempo sincopado
vida o sopro da alma animare

Pedro

2010-05-07


em menos de um instante
não mudei
nem de menos
nem de instante

Pedro

2010-05-05

a vida o tempo o espaço


a vida o tempo o espaço
vão ao ritmo de um minuto
a cada vez que deixo os segundos
distraídos a juntarem-se

às vezes suspendo o pêndulo
e fico a ver o tempo parado
um fôlego um suspiro o gesto
o olhar a surpresa de sentir

depois o tempo continua
aparente o mesmo diferente

tudo é como fazemos
tudo passa por nós
o eu o centro de ti
o eu que é em si

Pedro


soa a música
um bip sonoro
do eureka o eco
do livro canoro

Pedro


sem pressa
no ar que passa
um vento que deixa passar
lento
o ar que passa

Pedro

2010-05-01


a palavra certa
quem sabe quem é
que seja a palavra certa
para um eu que é

Pedro


lá fora
cá dentro
é relativo
o tempo

Pedro

2010-04-28


do diamante negro
cotejo
face a face
o beijo

Pedro

2010-04-27


palavra a palavra
todos os sons contidos
os sons gemidos
de cada palavra

Pedro

caríssima


por esta informo o que já deve saber
do prazer imenso que é o prazer
de abrir o livro as páginas de ler
todos os dias novo o corpo de ler

Pedro


curva a curva
face a face
do toque suave
o beijo
do seio

Pedro


se existe
o brilho rutilante
de diamante
negro
se existe

Pedro

2010-04-26


da página por escrever
escrita o momento
o branco disso escrito
do branco reflectido

Pedro


entre
não sei como foi
entrei
depois
nunca mais saí

Pedro


cada segundo
cada segundo
próprio
de quem
segundo quem

Pedro


sumarento
e sumário
o tempo
o fruto
gregário

Pedro


o gosto
desse fruto
que como
como
é bom

Pedro


entre
lábios
o silêncio
das palavras

Pedro


sorrisos
são brilhos
de formas
de olhar

Pedro

2010-04-23

livros




paz aos livros de boa vontade :-)

Pedro

2010-04-22


dispo-te lento o olhar
por entre um pestanejo

Pedro

2010-04-21


pergunta ao ar
que tempo é o tempo
pergunta à água
que tempo é o tempo
pergunta ao calor
que tempo é o tempo
pergunta ao chão
que tempo é o tempo
pergunta o ar
pergunta a água
o calor o chão
é o tempo amor
a vida coração

Pedro


por entre um e outro tempo
entrelaces
espaços
pedestres
cansaços

Pedro

2010-04-19


por entre pó
que tempo
por entre
tempo
que pó
onde
o tempo do pó
o pó do tempo

Pedro


ao pequeno-almoço
perguntou-se
que amor
me ama

ao almoço
pensou
que
amava

ao jantar
sabia
e adormecia

Pedro

2010-04-18


mudo lâmpadas
prosaicamente
para
que
se faça
luz

não faz

amanhã passo
na senhora
da electricidade
com as lâmpadas
velhas
à procura
de luz

Pedro

2010-04-13


resistia
à memória
de ser
memória
com quantas forças tinha
de que não tinha memória

Pedro

cerimónia


foi um momento delicado
a colocação da primeira pedra
da obra acabada

Pedro


a sombra descia
e projectava o sol

Pedro


há instantes
de ouvir
era uma vez
e arrepios
de histórias
por contar

Pedro


todos os dias
ligava
à mesma hora
ou quase
o mesmo número
numa repetida
conversa
rotineira
e sempre
a mesma
despedida
- love you
- love you more
numa rotina
eterna
como um amor
eterno
todos os dias

todos os dias
ligava
à mesma hora
ou quase
o mesmo número
e três toques
depois
o mesmo amor
todos os dias

Pedro

2010-04-10


não baralhe
que dê
mais do que
não dê
mais baralhe
que dê

Pedro


quanto mais no
vazio
cheio
de mais
de vazio
cheio

Pedro


o que vai de uma letra a outra
que o espaço não é
ambiguidade

Pedro


entre
significados
significantes
significantes
distâncias
entre letras
significados

Pedro


não percebi
que fosse importante
isso
farei com que seja
primordial
essa
atenção matinal

Pedro


um após outro
saíram
no silêncio
que deixaram
o ruído
no silêncio

Pedro

2010-04-09


que
sol
entra
pelas frestas
das minhas janelas
às seis da manhã que acordo
raiado de silêncio em bocejo estremunhado

Pedro


o ar já não é o mesmo
a lua não é mesma
os reflexos reflectem
todos os espelhos

Pedro

2010-04-07

Sinfonia eroica, composta per festeggiare il sovvenire d'un grand'uomo


by Ludwig van Beethoven.
A estreia pública foi a 7 de Abril de 1805

gosto muito
e recomendo

o DVD da BBC a recriar a estreia privada é fabuloso
gosto muito
e recomendo muito

tem uma forma de realização revolucionária
brilhante
não sei se comparável ao brilhantismo revolucionário da Eroica
mas muito muito
interessante

ver e ouvir estes objectos extraordinários
faz a alma reviva

Pedro

2010-04-02


fazes-me
entreolhar
reflexos
de que sou

Pedro


um silêncio
cansado de ser silêncio
geme
devagarinho
entre o acordar
nosso
de mansinho

Pedro


sem paciência
para a dor do poeta em sofrimento
mandei às malvas esse torpor
estupefacto estupor
real fingidez
irreal dor

Pedro

2010-03-31


há momentos
que parar
não é opção

há momentos
que olhar
é adoração

Pedro


é deste prazer que gosto
descobrir
ao que seja coberto
fazer dele des coberto

seja uma palavra
seja um som
seja um olhar
seja um tom
seja um sussurro
seja um encanto
um carinho
o teu espanto

Pedro

sobrescrito


que piada tem não reinventar
que piada tem inventar
que piada tem
tem tanta piada
mas tanta que tem
pegar num sobrescrito
e escrever sobre escritos

Pedro


quero apenas duas coisas
a mim
e a ti
num tempo que pode ser sem fim

Pedro


num entre
e tanto
de entretanto
que entretanto
que entretanto

Pedro


há significados
irreais
e reais

Pedro

2010-03-30


lembra-te que te toco apenas
só e somente ao de leve
sem mais contacto que esse
leve
contacto ao de leve

Pedro


sentes o que te toco
que toco

tão leve

Pedro


é o limite do sentir
que nem um só beijo reflecte
esta forma de toque leve
no que toque de tão leve

Pedro


um beijo
depois outro
quantos mais beijos outros

Pedro


enconta uma palavra que te conte
quanto
e depois disso o imenso é mais que isso

da falta que se sente
imensa
maior que todo o tamanho imenso

Pedro

2010-03-29


paixão é só
a gota no copo cheio do amor
que jorra

Pedro


contrario o contrário
do verdadeiro
e do seu contrário

Pedro

2010-03-28


o teu sorriso
preenche-me
de vida
prenhe

Pedro


que novidade é essa presente
que não se sente
que se sente
como se fosse eternamente nova novidade
esse novo intenso carente
ser ausente
ser presente
a presença por instante breve saciada
a vontade
a vontade
do beijo sorriso tocado
o beijo
sorriso
amado

Pedro


do mar salgado
navegado
há vento que traz
neblina
névoa de sal cristalino
branco
por onde entrevejo
doce
brilho luminoso o teu
olhar

Pedro


um paradoxo
não é
um pensamento
coxo
mesmo que o paradoxo
seja
muito
coxo

Pedro


quando o olhar te encontra
olhar
duas partes de um todo
lágrima
que lábios sorris
a forma química
de um cloreto
de sódio

Pedro

2010-03-27


os encontros não são fortuitos
acontecem sempre
mesmo que o sempre
seja eterno

Pedro

ouvido absoluto


não vejo notas
não ouço letras
nesse absoluto de ouvir
que não tenho

chegam-me as palavras que se constroem
entre um tímpano e outro
ressonâncias
palavras que sinto

Pedro


vejo o instante do ritmo
em que consinto
o que sinto
o que sinto
no instante
exacto
exacto
exacto
em que sinto

Pedro


que fazes
ao tempo
que te consome
os dias
idos
antes
da chegada

Pedro


sabes
que as palavras
chegaram
num murmúrio
quente

Pedro


saudade
é quando estamos longe
que estamos perto

Pedro


vejo-te
tão perto
quando te sinto

Pedro


sentes
o que te digo
de longe
a longe
no perto
que nos
fazemos

Pedro


palavras que andam
sentem
palmilham
viajam
regressam
entre um e outro
os lábios
por dizer

Pedro


se
se
se
se quisesse
dizer-te
tudo
o que sinto
se
se dissesse
tudo
tudo
o que sinto
o que diria
que agora sinto
o que não consigo
dizer
dizer-te
tanto
o que sinto

Pedro


a viagem continua
como sentes que continua
a viagem reflexo
os reflexos
imagens
que imagens
nós

Pedro

2010-03-25

entreamor e outro e outro


as palavras são ditas num tom
que palavras são ditas que disseste
as palavras que dizes são tão bom
as palavras nos sons dessas palavras
as palavras as palavras
as palavras que perdidos são os sons
as palavras que entre ti me são eu
as palavras que palavras que palavras
as palavras sem palavras outros sons

Pedro


devagar
amar
com todo o tempo
tão depressa
amar
devagar

devagar

com todo o tempo

tão depressa

devagar


Pedro


à noite
de dia
agora
o tempo é todo
o tempo tudo
de amar amor

Pedro

blonde crepe revisited


entre um crepe e outro
que olhares atravessámos
que foram entre olhares
outros olhares cruzados

Pedro

hombre


de que ombro a hombridade
de ombrear equiparado
às gentes que sossegue
de crepes o custo estiolado

Pedro

2010-03-24


há mais para lá do ar
mais para lá do mar
mais para lá do vento
mais para lá do olhar
mais que entre tanto
o mais é tão tudo
mais que entretanto
o tudo é tão mais

Pedro

a blonde crepe



e se um crepe bom sabe bem
companhia interessante sabe como?

o crepe era louro
a condizer com a companhia
nice seeing you there
nice meeting you there

don't be shy
let's do it again
in a spot nearby

:-))

Pedro

2010-03-23


no meu amor
vivo

Pedro


toco-te a flor
à pele

Pedro


o que lembrar é sonho
o que sonhar é ver
no que ver é sentir
no que sonhar é viver

Pedro


de entre nós
que nós

Pedro

2010-03-20


amo-te
de manhã

energia
molhada
redobrada

amo-te
à tarde

à noite
sempre

amo-te
amor

amo-te
sempre

Pedro


é uma humidade seca
água salina extrema
que no Vale da Morte
ronda lenta a morte

não há silêncio
há silêncio
não há silêncio
só há silêncio

Pedro


para onde quer que se olhe em volta
o branco é plano
até ao limite dos limites
onde as montanhas circundam
e o céu acaba

no fundo só há um ruído
quase pouco ouvido
um som baixo ofegante
a respirar
a única vida

no Vale da Morte há vida
enquanto se vê
o Vale da Morte

caminhei passos curtos longos
no Vale da Morte
um vale a norte

Pedro


caminhei sobre sal
trago nas solas sal
ao som de passos sobre sal
perdidos no fundo de um lago seco de sal

Pedro


no Vale da Morte
o silêncio é tudo

Pedro

2010-03-19


depois da luz
luz

Pedro

2010-03-18


durmo-te
quente

Pedro

luz


luz
e tudo se resume

em excesso
por defeito
a luz que molda
é tudo efeito
é tudo feito
por
com
essa
luz

e na ausência
memória

Pedro

2010-03-09

dessa consciência o inconsciente


não penses

pensa
antes que penses

Pedro

2010-03-03

Faria


se pensasse
pensaria
com o que pensasse
o que faria

Pedro

2010-03-01

tempo


que tempo voa
o tempo que voa
que não voa o tempo
que o fazemos voar

Pedro

2010-02-27


para sempre
sendo
para sempre
curto

para sempre
sendo
para sempre
tudo

Pedro


no espaço de um tempo
entre
entre ti e eu tempo

Pedro


corres-me adentro
à superfície
ao longo
a carne
a pele
corres-me olhos
lábios
boca
língua
corres-me sorrisos
sorrisos
sorridentes
corres-me sensações
calor
corres-me como te corro parados corremos

Pedro


ouço-te respirar
onde te ouço
amar
o som curto
o som longo
que sons
amor
amar

Pedro


nada é mais real que tocar-te
quando realmente acredito
da improvável certeza
de ter-te a tocar-te

Pedro


às vezes acordo-me
para te sonhar

Pedro


um poema de amor é uma contradição
em cabendo o amor no poema
que amor é
o poema
que amor

um poema de amor é uma contradição
em cabendo o amor no poema
que amor é
que amor
o poeta

Pedro


à noite
ao romper da aurora
cheguei-me a ti
manso o calor que te senti

Pedro

2010-02-26


numa manhã de manhã
fazia sol
as janelas corridas
fazia sol
de olhos fechados
fazia sol
entre os lençóis
fazia sol
o calor que nos fazia

Pedro


ah como não ser
poeta de ti
ser-te
poeta

Pedro

2010-02-25

encontro


antecipo o primeiro beijo do encontro
frémitos
do que as mãos se digam
presentes
os beijos ecos
húmidos
cegos os beijos cegos nos beijos

antecipo o primeiro beijo do encontro
do que as mãos se digam
os beijos ecos
frémitos
presentes
húmidos
cegos os corpos cegos nos corpos

antecipo as mãos no encontro
do que os beijos se digam
os corpos ecos
húmidos
frémitos
presentes
cegos_nós__tão_cegos_em_nós___cegos___nos___nós

Pedro

a propósito de escritos erotismos - ou não


se quisesse escrever erotismo
pensava em ti
como penso
no toque
que te escrevia
tocando-te

Pedro

isto é capaz de ser um desabafo


fico sempre perplexo com tantas palavras
quando poucas seriam suficientes
mesmo necessárias
para deixar ir o pensamento
de quem escreve
de quem lê
pelos caminhos do que sente
os caminhos de quem sente

pouco é tão mais muito
de no ler ser-se tudo

Pedro
a propósito de escritas que se alongam
que se alongam
num longo despropósito
e o desabafo pára aqui
que já é despropósito

Linhas


o meu silêncio
é da cor da sombra dos meus passos

eu Pedro desaparecido
sou aparentado de Pedro
com passos de entretido
em chão húmido (que a)travesso

fiz uma espécie de forma de livro
ou sonho de ser poesia
no desconto do princípio
de uma espécie de forma de livro

que seja um livro
se a substância não lhe for estranha
que talvez se estranha
que saber o desejasse que se entranha

Pedro
eu
espécie de larápio feito ladrão
sem pejo de usar
o que dos outros se lembre do alcance à mão

2010-02-24

esmero


fui e voltei
e levei
uma dose de esmero

com um sorriso nos lábios
e mãos em pressão
tanta
a fazer sofrer
para lá da compreensão

- estou a esmerar-me, não é?
- sim - respondi, entre sofrido e riso

ah, que bom
que não há como ir e voltar
a fisioterapia na epicondilite a latejar
uma massagem profunda transversal
e aprender
o gozo de uma tendinite

Pedro

2010-02-22


há um ritmo pedido
nas palavras
pelas palavras
entre uma
e outra
linha
que o ritmo segue
e faz
-se
nisso musical

Pedro


não sei se sentirás alguma vez o que sinto
e se sentires
como
dizer o que sentimos

Pedro

2010-02-21


hoje dei com um silêncio
que me falou
por entre linhas lidas em silêncio
atónito
o silêncio
e eu

Pedro

2010-02-20


sentir é uma multidão

Pedro

2010-02-18


um segundo
disse
um segundo
primeiro

depois secundaram-se

Pedro

tempo


não é o tempo que me escapa
sou eu
entre o tempo que me escapo

Pedro

2010-02-16

máscaras


quantos sorrisos
quantos esgares
quantos risos
quantos olhares
da alma a janela
da alma a face
da alma a carne
da alma a tarde

Pedro

2010-02-15


escapa-se a lebre ao caçador
como se escapasse da morte
escapa-se-me o sentido do tiro
dessa direcção como sorte

se numa direcção dois sentidos
diria eu talvez "escapasse-me"
se me escapasse o sentido
numa direcção sem sentidos?

Pedro
:-)

2010-02-14

personagem


o personagem estava dividido
quanto à natureza da personagem

foi à priberam dicionário
e leu
personagem | s. f. ou m.

ficou na mesma
a ignorância personificada
se na disjunção seria hermafrodita

Pedro


não sou eu
é ele
no reflexo
de mim
que não reconheço
em mim

estas fases reflexas
recursivas
elusivas
consomem a energia do infinito
até onde o infinito se esgota

os espelhos
paralelos
cansados
parados
nada dizem
depois de trezentos mil quilómetros
e um segundo

Pedro


um entendimento escapasse-me
no que leio de palavras dessentidas
de alma perdidas

a escrita é obrigatória
em forma e vida

Pedro


as palavras desabitadas
à procura de papel
lembram gente amordaçada
à procura de amor

Pedro

marinhagens palavras afins


li uma frase
batida
em castelo

tão firme
que nele
as palavras
amuradas

despediam
p'lo vento
palavras
de si

Pedro

são leituras


quando leres
diz-me
que leste
o quê
por entre o que leste
o quê
que leste

é assim tão difícil
ler
a entrever do sentir

Pedro


as palavras
nas entrelinhas
invisíveis
fascinam-me

Pedro


gostar é tão redundantemente pequeno
como amar é redundantemente infinito
a sentir
sem medir

Pedro

namorados aos dias e dias de namoros


o namoro não o vejo como namoro
o namoro vejo-o como namoro
o namoro vejo-o como
o namoro vejo-o
o namoro
vejo-o
como um beijo
sem fim
sem sufoco

Pedro


horizontes
reflexos
ali mesmo
e mais além

Pedro

2010-02-09

lembro-me


lembro-me de coisas que me apetecem, de coisas apetecíveis,
de coisas, pertos e perto, a falta que sinto, de que sinto faltas,
espaços apertados a espaços, espasmos, como risos, os risos,
sorrisos cantados

apetecem-me sorrisos de que me lembro
apetece-me lembrar
mais me apetece o que me lembro

Pedro

faz um frio que branca tudo


à noite numa hora tarde
neva brancamente neve iluminada

cá dentro
o calor
do olhar
em ti
deito-me tarde
assim
o pensamento em ti

Pedro

2010-02-08


destino
esse traço
do eu

Pedro


olha o tempo que passa
sem que passe
o teu olhar

Pedro

2010-02-07


sentir não é só um privilégio
aprende-se
depois do cansaço de não sentir

Pedro

2010-02-06


quando te beijo
é um sorriso vivo
que vivo por inteiro
quando te beijo beijos

Pedro

2010-02-05

digestivo


assim como assim
que como
assim

Pedro

sorrisos



foi bonita a festa pá
estou contente
e que outras festas pá
somos pela frente

Pedro
obrigado pelo empréstimo

Chico Buarque

2010-01-25

o tempo que é


é um compasso
passo a passo
esse passo
que passo é
uma estação
uma estrada
um caminho
uma via
um tempo
de vida
o tempo
que via
o tempo de ir e voltar
o tempo de acontecer
o tempo descoberta
ciclo tempo de ser

Pedro

2010-01-24

Inês de Medeiros


vai Inês formosa
e que segura

na carteira o ouro
paga certa atempada
de representante do povo
que anda de cara parva;
ela que habita Paris
vem a Lisboa num triz
quando estala o verniz
de saber do porquê
dessa origem o jaez
de coisa assim como roubo
de ser um pobre País
a pagar vida de rei

na fábula era o rei
aqui vai o País nu
sem dinheiro para a tanga
há dinheiro para Paris

vai Inês formosa
e que segura
na carteira o ouro
representas que povo?

Pedro

2010-01-23


viver-me o tempo de dentro faz-me isto de marulhar-te ao ouvido um tempo rico

ah como esta riqueza é tão de graça que é toda a riqueza

Pedro

Serração II


Com o tempo vem a noção de perspectivas diferentes. Não é só o tempo de crescimento. Ou todos os tempos de crescimento. O da idade, que o tempo impõe. O de dentro, que nos fazemos.

Em nuances não adivinhadas havia limites impostos, poucos, sem controlo, mas eficazes. Lembro-me de me ouvir gritarem, poços. Numa terra onde água sinonimava poço, com mais ou menos muro, quantos sem, ou tão baixos que era o mesmo, andar livre, correr, poços e terra recorrentes, a palavra poço marcava vida, marcava morte, no reflexo da água o céu, azul, nuvens, eu, e os fantasmas de todos os afogados.

Na casa da tia Lucinda o poço estava à porta da cozinha. Descidos os degraus, dois, balde atirado, a queda ao fundo, o splahsh na água, tentativa de boiar, os ferros de peso, tombava de lado, golfinhava-se de água, força na corda, força, a corda rija, força, a água ali. Na casa da Avó o poço estava longe. A água buscava-se na fonte, pública, ao fundo da ladeira, maldita quando subida a vasilha cheia.

- Ah nino, a talha está quase vazia, vais acartar umas infusas dauga, sim?

Adivinhava-se o corpo dorido. Caretas para dentro escapavam para fora. Oh Vó... Suspiro. Nunca se dizia não.

Pedro

2010-01-22

do tempo escravo fugia


quando o tempo nos passa
não ao lado
por entre
que tempo nos passa
que tempo nos é

ah que gostava de ser tempo

não sei o que fazia
se fazia
se sentia
mas desera escravo do tempo
ou maior escravo seria
em acreditando
que mais escravo é
o amo que o escravo esvazia

Pedro

2010-01-21

Serração I


Lembro-me de um grau de liberdade sem fim. É possível? Sem horário, sem local, sem meta, sem rota, ao impulso do instante. Liberdade inteira. É do que me lembro.

Saía sem me perguntarem onde ia. Andava por onde me apetecia. Com mais ou menos escuro, no céu, voltava. Ao outro dia repetia o dia. Andava, lembro-me de andar, corria pelas fazendas, os sapatos a enterrarem-se, a terra seca revolta, de arados, e por entre tabuleiros, e tabuleiros, os figos ao sol, moles a secar, espalhados, a cor que mudava, com o tempo, e o cheiro, forte fortíssimo. Não me lembro de companhia.

Com fome assomava à porta de quem fosse, perto, à hora que fosse. Pedia comida, bebida. Davam-me sempre. Havia sempre. A deshoras. A horas. Lembro-me de perguntas a que não respondia. Menores.

- Ah nino, a tua mãe sabe por onde tu andas?

A esta respondia sempre.

- Sim.

Pedro

2010-01-20


que linhas
tortas
seguimos
linhas
esperadas
direitas

Pedro

2010-01-19


faça-se
vivo
o poema
a pose dita extrema
a ser-se palavra verbo
o sujeito predicado
rima de sons às cores
formas de sentir olhado
sabores e beijos o lábio molhado

Pedro

2010-01-18

um dia


Olha que não sei. Não sei porquê, a coisa, a causa. Seguimos. Foi uma vontade de apetecer. Há partilhas que não se perguntam, vivem-se. Concordas? Disse-te vou levar-te a um lugar não faças perguntas. E cumpriste. Eu cumpri. Vivemos o tempo do espaço. Não sei como
há espaços que nos transportam onde não somos
Que coisa essa é que me leva me faz, isso que referiste dessa recorrência sobre as minhas palavras do espaço, aquele espaço, que não noto, que não percebo como seja a minha insistência no discurso oral do lugar, as vidas os cheiros os sons
cada lugar vive um tempo
Eu não sei o que o lugar me fez que me faz memória dele
É uma estranheza que me espanta
e no teu reflexo, no que me fazes ver de mim, chego-me de outro modo
disse-te
não sei nem o como nem o quando
um dia será que farei alguma coisa disto
um dia
Olha que sei que mostrar-te o lugar
falar-te dele no silêncio do vento
as paredes do abandono
às silvas a terra mole húmida
sei
um dia

Pedro

2010-01-17


um afecto
dois
carinhos
a dois

Pedro

2010-01-16

do tempo


linha a linha
espaço a espaço
o passo
que palavras passo
o tempo de um espaço

Pedro

2010-01-15


que bom que é
não saber
do caminho livro
p'ra ler
do trabalho oblíquo
p'ra ser
do tempo objecto
p'ra ter
dessa coisa olhar
p'ra ir
não por aí
não por aqui
ir sem ir
ficar sem ficar
viagem completa
um lado luar

Pedro

2010-01-14


por um dia só
à beira de um silêncio
o tempo
de brilho calmo lento

Pedro

2010-01-13


quando sentires
o toque leve
afago doce
do beijo
em ti
isso é
que sentes
o que é sentir
amor

Pedro

2010-01-12


cai uma chuva miúda
espalha pingas na vidraça
arde um fogo na lareira
e o fogo arde amiúde
até à cinza completa
ciclo a vida fértil
terra, ar, chuva amor

Pedro

2010-01-11


vi-te a passar
como se não visse a passar

o gosto lento
de paisagem parada

o sorriso triste
de viagem adiada

o olá surdina
o espaço vago

passei que por ti passavas
silêncios no gesto do olhar

Pedro

2010-01-10

realização


sinto-me realizado profissionalmente
também talvez porque sinto e tenho investido
numa profissão muito descurada
pai

Pedro

2010-01-08

Maria de Lourdes Pintasilgo



Antestreia do documentário sobre Maria de Lourdes Pintasilgo
13/01/2010, 21h00, Auditório 2

O documentário é uma co-produção da RTP e conta com o apoio da Fundação Gulbenkian.

Estreia na RTP2 dia 16 de Janeiro às 21h00.

Pedro

2010-01-07

olhar


tens os olhos de criança
que te fazem os passos grandes

Pedro

que atravesso


o meu silêncio
na cor da sombra dos meus passos

Pedro

2010-01-06

vida


a todos os instantes morro mais um pouco

dou-me por feliz
dou-me por muito feliz
que a cada instante morro feliz

Pedro

2010-01-05

que amor


uma estranha forma de amar
é tão salutar
como um lento suicídio

Pedro

2010-01-04

um obrigado à "boleia" do Chico Buarque


olhos nos olhos, não quero ver o que fazes
olhos nos olhos, não quero ver o que dizes
olhos nos olhos, quero ver-te o olhar
olhos nos olhos, quero tanto feliz

Pedro

2010-01-03

à noite à noite à noite


à noite o tempo espera por mim
entre um tempo que faz
um tempo lento fugaz
tempo sem tempo
só o tempo
de paz

à noite o meu tempo é-me

Pedro

2010-01-02

passadas caminhadas


caminhei
tanto que caminhei
para mim
que para ti
caminhei

Pedro

2010-01-01

sabes


enquanto o tempo passa
saboreia-o
papilativamente
por onde te for melhor

Pedro

sem pressa


não tenhas pressa
o tempo espera sempre até ao próximo segundo

Pedro

primeiro


hoje fiz chá
de Natal

servido num bule
holandês
em cristal deles
com uma base onde leva a chama
para manter quente

a minha mãe fez-me saber a composição
do chá
não do cristal

o meu pai serviu-se copiosamente
no que não foi copiado pela minha mãe
estava muito quente o chá

e a chama fez vista
fez-se vista
olha a chama
disse o meu pai
e a minha mãe olhou

a minha filha também tomou chá
e lembrou-se dos chás na Finlândia
e dos chás em Londres
é poliglota de chás a minha filha
e eu babei-me de chá
e de filha
um babar muito paterno

o meu filho não é de chás
prefere
Uncharted 2: Among Thieves Unravels Mysteries
of Marco Polo’s Voyage

na Playstaion 3
enquanto beberricamos a espaços curtos
viagens virtuais e sabores
planetários

muito caseiro
este meu dia um

Pedro

ao longo do tempo


pus o relógio
abri a janela
saudei a luz
brilhante

chegaste à minha vida
hoje é um novo dia

Pedro

tempo


o tempo é
o que é
o tempo
de ser
descoberta
trânsito
travessia
que o tempo é
viagem
poesia

Pedro