2010-06-30


não terminar na tónica
na música
como em toda a outra música
um exercício pleno

Pedro


deixa-me dizer-te um segredo

Pedro

2010-06-29


querido diário

ontem à tarde o meu pai levou-me a passear
fomos ver um cabo
e lá estavam pegadas de dinossauro
que se viam muito mal
mas o meu pai disse
estás a ver aqui, diz que estão as pegadas ali
eu já estava farto, queria ver o big bang
e o meu pai disse
aproveita este ar
e depois voltámos para casa
que ele também queria ver o big bang

filho

2010-06-28


do calor que se liberta
o cheiro do teu calor
um sabor que saboreio
a saber a mais que amor

Pedro

2010-06-27


entre um e outro
um tempo outro

Pedro


era de mansinho
lentamente
que saía

pé ante pé
no silêncio
o café

canela
preto
o cheiro

acordavas o sorriso grande
um beijo o travo amargo

que preguiça boa
acordar-te molhada

Pedro


há tempos que o espanto não dilui

Pedro


um vale
inundado
enrugado
de lençóis

Pedro

2010-06-26


o beijo
entre um
e outro
lábio

Pedro


é lento o chegar
tão rápido o partir

Pedro


se tudo é igual
a consciência da diferença
não é igual

Pedro


a palavra faz-se lenta
tão lenta
abandono
geme gemido

Pedro


tempo suspenso
sorriso eterno

Pedro


pelos lençóis alvoroçados
a calmaria
do mar envolto tempo
o grito
poesia

Pedro


no livro devagar que faço
ar entre as folhas
o espaço do poema

Pedro


saí
lembras-te
cedo
que o meu sono ficou contigo

depois logo antes de partir
voltei atrás
dormias o meu sono solto

Pedro


uma e duas vezes
não mais
devem ter sido suficientes

depois olha
olhámos
e ainda

Pedro

2010-06-25


do olhar da criança que se pasma
o olhar da criança que se plasma

Pedro


se o meu olhar te tocasse
como te olho
ah se o meu olhar tocasse
como te toco

Pedro


leio
e percebo
onde o que leio
me preenche
cada poro da pele que sente

Pedro

2010-06-24


como fazer imagens de palavras
por entre sorrisos de lábios
entre miragens e margens
duns quantos sorrisos vários

Pedro

2010-06-23


sentir o teu corpo
como quem sente o rio
que passa mansamente
enquanto beija margens

Pedro


lembro-me

do toque da tua pele
do toque dos teus lábios
do toque da tua língua
do toque do teu olhar
do toque do teu corpo
do toque do teu sexo
do toque do teu rosto
do toque do teu amor
do toque dos teus dedos
do toque dos teus cheiros
do toque dos teus sons
do toque dos teus sorrisos
do toque do sono
do toque do lençol
do toque do presente
do toque de ti
a cada manhã de acordar

Pedro


porque a vida só vale a vida que é feita vida mudança
entre vida corrida e flor garrida esperança

Pedro


uma dor de quem me tenha
minha
diminuída no partilhar

a tua dor que eu viva
encontro
de momento de amar

Pedro


quando a chuva cai
como cai a chuva que cai
que cai como a chuva que cai

há uma chuva
imensa
entre um olhar
e um sorriso triste

Pedro

2010-06-22


disse a flor
à flor
flores

Pedro


o melhor de tudo
é tudo

Pedro


e o guerreiro cansado
deu passos lentos mas seguros

e riu-se
no olhar em que se perdeu

Pedro


vi agora um mupi bonito
com imagem e palavras
da edilidade lisboeta
um obrigado Saramago

ao mesmo que agradeceu
com um obrigadinho
não vejo que agora não chegasse
um outro obrigadinho

:-)

Pedro

2010-06-21


a rotina
precisa
de um espaço
um tempo
um gesto
um calor
um olhar
um sorriso
um acordar
um sentido
ideias
partilhas
e a palavra
amor

Pedro


estar calado é tão importante
como expressar o que não digo

Pedro


a filigrana do que me dizes
prenha-me meandros

Pedro


por debaixo do tampo de silêncio
o deserto é imenso

Pedro


só escrevo o que sinto
se não escrevo não sinto

Pedro

2010-06-20


supõe
o real
que bate
leve
como quem se inspira
em ti
e nesse bater
bate
com tempo
bate
por fim

realizas dor
incontornável

só tens que optar

dás-te ao sentir
ou finges que sentes

Pedro


sou marinheiro esquisito de palavras
naufrago
por onde leio ou escrevo
quantas vezes

insisto no retomar
do mar e palavras
que me afogam

um livro livros
de onde saí vivo
um poeta nu que me desnudou
de um jorge sousa de braga
aquilo afogou-me inteiro
e lançou-me à praia

comi areia
vomitei algas
e aos peixes disse nada
que era deserta
a falésia alta

de onde vim
o caminho que vi

não sei
não sei o que vi
não sei o que vejo

deixo ser-me só

Pedro


dizia-lhe
vai ser melhor
sabendo do talvez que saberia
dizia-lhe
vai ser melhor
como sabia
que não sabia o melhor que seria

Pedro


queria mandar uma carta por aqui
que estou contente
mando uma carta para ti por aqui
com remetente

Pedro

2010-06-19


do poema
o teu corpo
linhas
que me seduzem
as palavras rolam
e a língua as diz
como dizem corpos
em amor
meu amor

Pedro

2010-06-18


do silêncio que chega
chega que silêncio

Pedro


o vazio
está
onde já esteja

Pedro


a caixa
desencaixa
de que ar
a forma

Pedro


um compasso
só isso
eterno
desiderato

Pedro


a
voz
cala-se
que
voz
se cala
a
voz
que
sois

Pedro


entrega-te
deixa
ir o tempo que é
do tempo que foi
és
o tempo que serás

Pedro

eu


assim o tempo absorve
tudo o que morre

há um morrer eterno
outro ressuscitado

depois de morto que vivo
de que morto vivo

Pedro


poeta sou
que sei
eu
de que
poeta
seja

Pedro


há um grito sem dor
lento
sussurrado
entre forma geometria
grita grito
depois ri
o grito a fazer de dor
dor entranhas
alegria
dor
disfarce
que fazias

Pedro


verdadeiro
dentro
essencial
eu
universal

Pedro


ir
por aí só
ir
de regresso não conhecido
ir
contigo
ir
por uma vida
ir

Pedro

2010-06-16


foi que te pergunto
mimo
com o tom que conheces
conhecem os nossos passos
caminho
os passos que conheces

são os afagos que sabes
afagos como carícias
passos entre caminhos
dos sorrisos que sabes

Pedro


quanto muito é a escrita
do que há por escrever

muito o quanto que é ler
do sentir que é escrever

Pedro


quando a palavra se lê
sou eu que leio
ou a palavra que lê?

Pedro

2010-06-15


todo o tempo é temporário
entre mim e que ideário

Pedro


há um texto contexto com texto
que despercebo entendo
como filigrana de letras infusão
o tempo deixa que assente
lento devagar partículas de sentido

Pedro


que dias são os teus olhos que passam
que olhos passam que são os teus dias

Pedro


como dias são os teus
sorrisos
como dias que passam
são os teus
olhos
como dias cheios que são
sorrisos
como dias achados
são os teus
olhos
dias que passam achados que ficam cheios

Pedro

2010-06-14


que palavras escrevo que leio
que escrevo que leio
entre palavras ouvidas
entre palavras corridas
entre palavras os sons
significados almas
o sentir eu
sentido de palavras

Pedro

2010-06-13


voo o físico pensamento tão em ti
que me sinto em ti físico para lá do pensamento

Pedro

2010-06-12


que distância curta
entre o ar que nos toca

Pedro

2010-06-11


procuro tão só
forma e significado
não só o significado
nem a forma só
só a forma significado
de algum significado

Pedro

2010-06-10


deixo-me ir
que não paro
agora

como não ir
sem parar
por onde ir se vai
como quem vem

Pedro


quando te sinto
à pele
o toque
quando
esse sentido
à pele
o toque
tanto
esse amante
na pele
no toque
manto

Pedro


o tempo parece ser
insistente
quando de ti aparto
no existir por
encanto
entre ser e enquanto

Pedro

2010-06-09


amanhã vejo-te com olhos de saudade
como te vejo agora com olhos de saudade
à distância de um beijo instante
à distância de tempo instante

Pedro

2010-06-08


que silêncio está
no olhar
dos amantes

Pedro

2010-06-07


a subtileza de uma palavra
e outra e outra e outra
é que às vezes
basta nenhuma

Pedro


doces
beijos
roubados
doces
gulosos
provados

Pedro

2010-06-06


e como não ter o prazer
de escrever pelo prazer
de ler-se com o prazer
de tão só ler em prazer

Pedro

2010-06-05


passo o dedo entre os teus seios
é um arrepio que sentes
como se fosse de ar
o arrepio que sentes

dispo-te o que me despes
num devagar apressado
como se fosse pressa
o que sentimos presente

amo-te como me amas
entre o gemido ondulado
com todo o ser entregue
este presente que sentes

Pedro

2010-06-04


um beijo é
um beijo
que me faz falta

Pedro

2010-06-03


as amoras são o fruto do amor
porque são
as amoras amor

Pedro


quando o amor
encontra o amor
que amor não há
que amor há
que amor é
que amor será

Pedro

2010-06-02

de que sons saudades


toca uma tecla
tão só somente
que de entre o só
que seja o som somente
seja o som semente
de sons entrementes
entre um som somente
e outros sons sementes

entre um ou outro som
não te faltarão sons

Pedro

2010-06-01


que sons toca
o piano
de teclas
transparentes
ao olhar
reluzentes
do tempo só
passar

Pedro