2009-09-26

por todos os beijos os beijos todos


dos beijos todos que demos
perdi-me completo por inteiro
no beijo pelo olhar que demos

Pedro

2009-09-25

do Universo navegantes


enviamos naves à lua a Marte aos planetas e para lá
com universos sem fim no corpo do amor

só pode ser cegueira
vontade de não viver
o aqui agora
real palpável
sem fim

por mim já sou astronauta
estratosfera que respiro
em ti o Bing Bang que descubro

Pedro

quando me encontro em ti que me encontro te encontro


se procurasse alguma forma de ter
essa sensação próxima de descrever
o que é o que seja o sentir
de sentir-te e ser nesse sentir...
que palavras seriam
que servissem o dizer...
só me lembro de palavras de silêncio
de lábios boca garganta em rouquidão
explosivamente incapazes de palavras

como me encontro a ver-te
os olhos a expressão a boca
o teu estado
o encontro
a entrega
inteira
não há sim
não há não
há tudo

Pedro

reflexos

reflexos


por reflexos que te levam
para além do reflexo
que reflexos
pensas
que reflectes
por distâncias
e pensamentos
no tempo que passa
que não fica
que passa e fica
o tempo que me ficas
tanto que me ficas
a memória invadida
a memória
sem ter dela
o tempo da partida

chegas
o mundo acabou
chegas
sabes ao mundo que chegou

Pedro

2009-09-24

Susana



nasceste como é que nasceste
que te vi crescer como nasceste
um raio de luz que cresceste
um olhar que amanheceste
um sol que te fizeste
o tempo tão curto que cresceste
como é que cresceste que cresceste
eu a ver-te a ver-te nascer
seta flecha o arco da partida
dessa ida britânica a ilha
vida nova nova vida
o tempo voa Susana o tempo voa
e um dia Bruxelas Lisboa
e um dia Londres Lisboa
o tempo voa o tempo voa

Pedro

2009-09-23

pelos teus dedos que me guio

pelos teus dedos que me guio


é bom tocar-te
os dedos as mãos
a pele
tocar-te
ao de leve
tocar-te
tanto
beijar-te
desejar com força nesta força nesta força
amor sexo amor amor
amor que me louco deixas sou

Pedro

pelo céu e pela terra

pelo céu e pela terra


singularmente
reflexos
repara como o céu se prepara
para receber da terra
do verde impregne
o verde
vida
que o sol aquece no dia
a dia
a vida que à noite adormece
o dia
que amanhã aquece

a terra é só uma
o céu um só
tu e eu um
que um um só

Pedro

de um olhar que me vê, vês?


se olhares pela janela não te espantes
não sou eu
são os teus olhos que me vêem

Pedro

tempo de Outono


o tempo de Outono tem assim uns tons e cores diferentes
intermédios
mornos e quentes
no compasso do frio

Pedro

2009-09-21

outono


a primeira vez que notei a cor de Outono foi há muito tempo, parece uma eternidade, estava no Porto, tinha seguido para Espinho, para o Cinanima, dado boleia à Luísa, que aproveitou para dar um pulo ao Porto para trazer coisas de casa para Lisboa, pediu-me se podíamos passar no Porto, aquiesci, fomos, e numa avenida qualquer ela mostrou-me a cor das folhas das árvores e disse olha que bonito estas cores de Outono e pela minha expressão ela viu que eu não via e disse-me tu não ligas muito a isto pois não e eu devo ter dito que não, lembro-me de ter dito que não, e desde esse tempo até agora passou um tempo imenso, parece uma eternidade, e a luz de Outono, as cores de Outono, vejo-as, e à janela, ontem, ao fim da tarde, disse em voz alta, olha-me esta luz, e repeti, olha-me esta luz, uma luz que não sei o que tem, é hipnótica, tem uma beleza muito particular, da minha janela vê-se uma colina e alguns prédios pela colina acima, e a luz reflecte-se nas janelas, às vezes vem directa do sol a mim e entra-me adentro pelo quarto e não sei se por mim

que luz vejo hoje é uma luz diferente
que a luz pode ser que seja igual
que os olhos pode ser que sejam diferentes

Pedro

2009-09-19

sonos


o sono é bom, é como acordar, é como viver, bocejar a boca aberta e ronronar, como ronronamos todos, de sono, de bom, de preguiça, de estar, de ver, luz, a invadir, a janela, a parede, a cama, os lençóis, as almofadas, e o calor da luz é morno, como o morno nos lençóis devagar a misturar-se com o morno da luz, e a sentir a luz a beijar-te a pele por entre beijos pequenos, os melhores beijos do mundo são pequenos beijos no canto dos lábios, música, os melhores beijos do mundo são beijos pequenos que sabem a música, ao ritmo compasso a ouvir sem ouvir o bater do coração, sem ouvir, síncronos, o bater o bater do coração do coração

Pedro

dormir contigo ao lado


sentir-te o corpo
sentir-te o corpo quente
no respirar suave que te embala
morno no sono quente
sentir-te o corpo

Pedro

2009-09-18

à janela de um tempo

à janela de um tempo


foi à janela que viste?
o quê
que viste
à janela de uma noite
uma noite entre
tantas
que noites

Pedro

2009-09-17

tempo

tempo


um tempo medonho
medonho

Pedro

2009-09-16

linhas e geometrias



linhas
geometrias
que mais linhas
geométricas
linhas
geometrias

Pedro

2009-09-15

chocolate canela café


com que chocolate
com que canela
com que café
te entretenho
que te tenho
que nos entretemos
em chocolate
canela
café
depois da manhã
da tarde
da noite
e quantas mais manhãs
das noites amanhã

e quadrados de bolo
e doce de cereja
e doce de figo
em pão de centeio

Pedro

2009-09-12

acontecer


tu aconteceste, sabes?
não sei como
como foi
como tenha sido

aconteceste

tu aconteceste
sabes?
como sabes?
eu não sei
e não será para saber

sei que é
que aconteceste
e que vivo

Pedro

subitamente


e subitamente
na curva da vida
ela apareceu
e disse

PS: Nice seeing you here :)

- Likewise, nice seeing you here

e a felicidade aconteceu

Pedro

2009-09-05

por um olhar


por um olhar adentro
que janelas visíveis visionas
por um olhar adentro
paisagens abertas janelas longas

Pedro

2009-09-04

pela paisagem de um sol nascente


sentimentos
nus
palavras
despidas
visivelmente
entregues

Pedro

longe


estar longe
é uma seca
tão seco
como um deserto

Pedro

2009-09-03

um ser eu


o ser eu
que é tudo
é tudo ser
é ser tudo
que ser eu
é ser o eu
do ser eu
o ser mundo

Pedro

que fazer com este estar por acontecer


Estou à espera do efeito do café. Que se faça sentir esse estado desperto. Que preciso dele neste deserto desterro enterrado. Não completamente completo. Mas lento e afastado de tudo o que é existência a que estou habituado. Para o pão tenho que me meter no carro. Para o almoço, carro. Para o jantar, carro. As pernas não chegam. E agora, a usar o portátil nesta rede, net, lenta e mais que lenta em sintonia com o local, descubro que todas as partes cromadas, poucas, expostas do portátil, se lhes toco com a ponta dos dedos levo um senhor choque eléctrico... Isto é lento e, nessa lentidão, adormecente... Para não se correr o risco de adormecer, a rede eléctrica está mal instalada e prega-nos arrepios de acordar, arrepios modernos, electrizantes, que isto aqui sendo antigo e lento, recorre ao moderno electrão para uma terapia de choque: acorde

Pedro

2009-09-01

going and returning from gone


gone
not forever
not forever
gone
the journey
born
the journey
reborn

Pedro

olha a forma que formo quando te vejo inteira que é sempre como te vejo tão inteira que me preenches


de todos os passos que dei
de todos os passos que dou
em todos os passos que serei
há um passo em que sou
o que já fui
o que serei
um eu feito escultura
forma filigrana entretecida
a luz a sombra e penumbra
entre brilho de clara a escura
a forma mais completa de mim
o brilho de um sorriso em mim

Pedro