Lembro-me de um grau de liberdade sem fim. É possível? Sem horário, sem local, sem meta, sem rota, ao impulso do instante. Liberdade inteira. É do que me lembro.
Saía sem me perguntarem onde ia. Andava por onde me apetecia. Com mais ou menos escuro, no céu, voltava. Ao outro dia repetia o dia. Andava, lembro-me de andar, corria pelas fazendas, os sapatos a enterrarem-se, a terra seca revolta, de arados, e por entre tabuleiros, e tabuleiros, os figos ao sol, moles a secar, espalhados, a cor que mudava, com o tempo, e o cheiro, forte fortíssimo. Não me lembro de companhia.
Com fome assomava à porta de quem fosse, perto, à hora que fosse. Pedia comida, bebida. Davam-me sempre. Havia sempre. A deshoras. A horas. Lembro-me de perguntas a que não respondia. Menores.
- Ah nino, a tua mãe sabe por onde tu andas?
A esta respondia sempre.
- Sim.
Pedro
2 comments:
:))
Mas olha que eu também me lembro de um Tempo assim... um Tempo há que tempos.
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