2009-11-30

à caça de raios e coriscos


parámos
para nos armarmos
caçadores
de coragem


aqui, em grande, eu digo soberba

Pedro

que problemas


chove
chuva que quase não é chuva
que se sentirá como
uma chuva quase não

terá a chuva problemas de identidade

Pedro

2009-11-29

esquerda ao contrário


- Ali, à direita.
- Ok, direita.
Em silêncio ocorre o contrário.
- Viraste à?
- Direita!?
O olhar incrédulo do contrário.

Por cruzamentos assim
que sejam só assim

Pedro

2009-11-28

passos


há passos nos caminhos
passos ao caminho
que passos
que caminho
que passos caminho

Pedro

2009-11-27

ser


um mais um quantos são
para lá do um e um que são

Pedro

2009-11-26

tempo


o tempo
nada
que é
tudo
o tempo
memória
que é
tudo

Pedro

tempo


no tempo escrevo
o que o tempo prova
da memória o tempo
de que outra memória

Pedro

2009-11-24

na margem do eu em ti


secos e molhados
de meandros os reflexos
caminhos beijos dados

Pedro

fire


don't light my fire
see the sky?
it's already on fire

Pedro

2009-11-20

sentes?


repete o acorde
tecla a tecla
refaz a nota
sincopa o sopro
uma oitava acima
até à oitava abaixo
suspende o sustenido
treme o bemol
tem-te ao ritmo
o ritmo
sentes?

Pedro

sem uma nota só


quero a minha palavra solta
como uma nota
vadia
sem canção
sem volta
só com ida
a palavra livre
de se entreter
enrodilhar
dedilhar
-te os cabelos

ah as palavras livres que te digo livres
enquanto pelos teus cabelos nos dedilhamos

Pedro

não há


não há amor como o primeiro amor verdadeiro
não há

é que não há

e essa certeza de não haver
é de saber como todos os amores anteriores
por mais verdadeiros
não foram de verdade

não há amor como o primeiro
não há
que o primeiro amor de verdade
sabe a mais que amor de verdade

Pedro

se


se o amor é ridículo
que as cartas são ridículas
deixa-me ser ridículo no amor por ti
ridículo a amar-te
tão ridículo aos olhos dos outros
que não sabem o que é amar

Pedro

2009-11-19

por todos os Skye a descobrir


travessias com chegadas
passagens e margens
partidas e reencontros
o ponto o longe o encontro

Pedro

beijo


um beijo
pétalas
de sonho

Pedro

2009-11-18

Amor


- É a ti que eu quero.
- O Amor é um acto voluntário, quero-te a ti.
Continuaram a amar-se.

Pedro

2009-11-17

recolector


recolho cacos pedaços de vidro
e cacos pedaços de vida
de quantos cacos a descoberta feita
de recolhas para um dia

Pedro
a propósito de "Les glaneurs et la glaneuse" de Agnès Varda

que rede


a rede pasta, o mail rizoma

queres trabalhar e esperas paciente
mesmo que infinitamente o aviso seja
um "Loading..." de tempo infindo
promessa de acesso instantâneo
quando se lembrar de acontecer

é irritante esta web mentirosa
começa-se-me a esgotar a pachorra

Pedro

viagem


navegar por ti
ir
do fundo que volto
viagem
em ti

Pedro

tu


o teu sorriso
o teu corpo
perco-me
afogo-me
regresso
incólume

Pedro

par



encontros são fortuitos
que fazemos acontecer

Pedro

mar da terra ária


num espaço que não é o tempo navegas à margem de uma terra vista entre memórias que o tempo flutua quando atravessas uma passada lenta um olá de sorriso entre novo e surpreendido o tempo suspenso faz-te o olhar

recordas o futuro que queres
o futuro
um barco de uma margem à outra pelo chão mar sem vento só o tempo de seguir em frente pelo adentro do olhar

Pedro

2009-11-16

janelas


o meu windows é tão empático
tão empático
que dá-me o sono
e ele crasha

Pedro

2009-11-15

μαιάνδρους


pelos meandros que vamos
encontramos o que vamos
descobrindo a descoberto
o valor que valores vamos
fazendo nascer do cálculo
ideia precisa aproximada
como pela infinita dízima
da circunferência pelo diâmetro
voltas desfeitas sinuosidades
de altos e baixos e mar chão
enredo que pede sequência
até onde a vida alcance
3.1415926535897932384626433

Pedro

pela noite que não era dia



segui-te
à janela
pela janela
segui-te
irrequieta
irrequieto o tempo
o movimento
segui-te
até ser dia
que o sol fez-te
que se fez

Pedro

a dia a dia em frente / vago o dia adiamento


quanta morte é precisa vida
que à vida se deixe a morte
ir seguindo seu pensamento
dia a dia vagamente

Pedro

palavra


digo a palavra mãe
sem sentir o que sinto
no limbo a mãe ser
no astro mãe limbo

Pedro

pois


faço o passo que sigo num desdigo ao sentido que enquanto o faço sigo o que faço dessentido

Pedro

era um gosto que não lembro


horas sem acordo
alimento a tempo
mais que para lá o espaço tempo

fosse o que era
o que era gosto
no tempo tempo esse suspenso

fluxo o ritmo
o corpo bomba
ferida passagem túnel natural

quanto aguentou
de morno a quente
da pressão o cordão umbilical

Pedro

um beijo


um beijo
e outro
outro ainda
e mais outro
porque um beijo
só um
sabe a pouco
mais que um

um beijo
e outro
mais beijos
é tão pouco
porque os beijos
tão só
são o pouco
de nós sós

Pedro

no tempo do som silêncio


quando o silêncio é
ouves mais o que é silêncio
quando o som é silêncio
o silêncio a ser som

Pedro

2009-11-12

quando eu era pequenino fazia um poeminha, agora quero ser grande e fazer um poemão


no uso da palavra
vez por outra penso
que abuso

há palavras
que palavras
tão bem deixadas em paz

ai que o uso da palavra
passava tão bem sem o abuso
do meu sentimentozinho
do meu sentimentozão
e variantes entre tão balalão

um dia quando for grande
quero ser uma palavra forte
ideia cheia segura e firme
como grave é a palavra muro

Pedro

2009-11-10

alergia alegria


um fio
fino
de voz

Pedro

2009-11-09

ILFORD


de entre o nevoeiro adenso
grânulos angulosos
do puxado revela o reverso
os poros luminosos

Pedro

coisas


de visita a Berlim do outro lado procurei uma recordação

já quase em desespero de causa vi a coisa, as coisas

ladies and gentleman,
as únicas, inigualáveis
inultrapassáveis, universais
as verdadeiras
bolas de Berlim



Pedro

2009-11-07

por um tempo aparente tão longe tão perto de tão bom


num tempo de que não sei o tempo
foste o que o tempo se fez
um tempo de ida passagem
a margem agora o lado
chegada a tempo feita
gosto a ver-te aqui
passos lado a lado

Pedro

por um caminho longo


o teu cheiro
o teu sorriso
o teu corpo
o céu bonito

as cores brilho
o tempo bom
brinde à vida
e beira-mar

Pedro

2009-11-06

quando o meu amor me fala e diz


diz-me as palavras que te ouço
arrebatadas
calmas
entrecortadas
respiradas
minhas as tuas palavras
que me dizes que te ouço

Pedro

hoje um dia cinza chuva


em dias assim
como este que se pinta cinzento
chego-me a um aconchego de café quente
num deixar ir que é quase morno
onde nasce um pensamento

a vida é mais do que a urgência
de não chegar à morte

Pedro

hoje dia assim de chuva


está cinzento o ar
o chão molhado reflecte
à janela difracto
pensamentos que penso

Pedro

hoje é dia meio de chuva


cai uma chuva miúda
espalha pingas na vidraça
arde um fogo na lareira
e em mim arde este fogo por ti miúda
que me sacia e acalma

Pedro

hoje a chuva nasceu assim


não pergunto
sequer questiono
dessa infinidade de gotas da chuva que me molha

porquê perguntar-me
da quantidade das letras
por algumas palavras que me jorram

Pedro

de brilhos intensos reflexos


brilhos
reflexos
serão fontes
amplexos

Pedro

2009-11-05

se te lembras foi no Continente


passas junto à criança
que olha para ti
o sorriso
feito
um brilho
que acompanhas
enquanto passas criança

Pedro

espelho


um espelho não mente
mostra o que os olhos vêem
o que a mente sente

Pedro

2009-11-04

eu


há notas que não ouço
quando me ouço diferente

Pedro

sono


parece-te bem, enrodilhado
pois a mim também
se for em ti

Pedro

quando


quando me enrodilho em ti é como se o tempo fosse só sem mais nada que o calor do teu corpo a que me chego me aconchego e adormeço sem saber que adormeço e acordo sem me lembrar de acordar e durmo num sossego de paz que me traz a paz que faz ao longo do sono do tempo do som respirado

é tão bom o sono enrodilhado

Pedro

tempo


quando aprendi a andar caminhei
quando aprendi a falar conversei
quando aprendi a pintar colori
quando aprendi a desenhar escrevi
quando aprendi os sons escrevi
quando aprendi as cores adocei
quando aprendi o eu fiz-me olhar

Pedro

2009-11-03

a janela


The Window, originally uploaded by Patiblue

a janela
aberta ao branco
colorida
fechada ao vento
aberta ao ar
a janela
aberta fechada
como um tempo
ido
que foi lamento

Pedro

2009-11-01

palavra


a palavra rolha
flutua
no sabor de que corrente

Pedro