ontem dei uma aula que me soube bem; disciplina (agora diz-se Unidade Curricular) de "som e vídeo para multimédia"; procuro centrar-me na forma de criar conteúdo bom, que a técnica e a tecnologia estejam ao serviço do conteúdo, não o inverso; procuro que o conteúdo seja a prioridade; que conteúdo? o conteúdo universal, a emoção; e por onde anda a emoção no audiovisual? qual o suporte? os olhos, a expressão do olhar; utilizei um vídeo como núcleo da aula, gravei-o da RTP2, chamado "What do Editors do?", escrito por Mark Jonathan Harris, realizado por Wendy Apple; uma delícia; sobre montagem e o que fazem os montadores, com intervenções de Jodie Foster, Spielberg, Zemeckis, Scorsese, Ridley Scott e outros, e uma série infindável e excelente de montadores; com exemplos de Lumière, Edison, Edwin Porter, Dziga Vertov, D.W. Griffith, Eisenstein, uma maravilha de ver e ouvir, analisar, apreciar e pensar... um montador diz "montar é gerir os olhares", outro diz "montar é criar ritmo", outro diz "montar é narrar", outro diz "montar é fazer viver a emoção"
a determinada altura passam este pedaço de monólogo de "Kundun", 1997, escrito por Melissa Mathison e dirigido por Martin Scorsese:
"First, one understands he causes much of his own suffering needlessly.
Second, he looks for the reasons for this in his own life; to look is to have confidence in one's own ability to end the suffering.
Finally, a wish arises to find a path to peace. For all beings desire happiness, all wish to find the pure selfs."
e este monólogo faz-me pensar no livro "O Caminho Menos Percorrido" de Scott Peck
no mesmo DVD tenho gravado um outro programa, sobre Herberto Helder; Paula Morão diz "... porque lendo em voz alta nós percebemos como os textos têm um ritmo que é muito próximo dos movimentos do coração, sístole, diástole, o movimento semelhante ao movimento pulsional das marés", e a voz of lê, de Herberto Helder:
"Se o sul é para trás e o norte é para o lado,
é para sempre a morte.
Agarrado ao volante e pulmões às costas
como um pneu furado,
o poeta pedala o coração transfigurado.
Na memória mais antiga a direcção da morte
é a mesma do amor. E o poeta,
afinal mais mortal do que os outros animais
dá à pata nos pedais para um verão interior."
ritmo, pulsar, olhar, poesia, emoção
está tudo universalmente onde se viva
se queira ver
ser-se capaz
não sei se é coincidência que no mesmo DVD eu tenha colocado o programa sobre montagem e o programa sobre Herberto Helder; sei que estão muito bem
gosto de dar aulas onde aprendo
gostei muito da minha aula de ontem
Pedro