2009-10-07

por palavras do olhar


ontem dei uma aula que me soube bem; disciplina (agora diz-se Unidade Curricular) de "som e vídeo para multimédia"; procuro centrar-me na forma de criar conteúdo bom, que a técnica e a tecnologia estejam ao serviço do conteúdo, não o inverso; procuro que o conteúdo seja a prioridade; que conteúdo? o conteúdo universal, a emoção; e por onde anda a emoção no audiovisual? qual o suporte? os olhos, a expressão do olhar; utilizei um vídeo como núcleo da aula, gravei-o da RTP2, chamado "What do Editors do?", escrito por Mark Jonathan Harris, realizado por Wendy Apple; uma delícia; sobre montagem e o que fazem os montadores, com intervenções de Jodie Foster, Spielberg, Zemeckis, Scorsese, Ridley Scott e outros, e uma série infindável e excelente de montadores; com exemplos de Lumière, Edison, Edwin Porter, Dziga Vertov, D.W. Griffith, Eisenstein, uma maravilha de ver e ouvir, analisar, apreciar e pensar... um montador diz "montar é gerir os olhares", outro diz "montar é criar ritmo", outro diz "montar é narrar", outro diz "montar é fazer viver a emoção"

a determinada altura passam este pedaço de monólogo de "Kundun", 1997, escrito por Melissa Mathison e dirigido por Martin Scorsese:

"First, one understands he causes much of his own suffering needlessly.
Second, he looks for the reasons for this in his own life; to look is to have confidence in one's own ability to end the suffering.
Finally, a wish arises to find a path to peace. For all beings desire happiness, all wish to find the pure selfs."

e este monólogo faz-me pensar no livro "O Caminho Menos Percorrido" de Scott Peck

no mesmo DVD tenho gravado um outro programa, sobre Herberto Helder; Paula Morão diz "... porque lendo em voz alta nós percebemos como os textos têm um ritmo que é muito próximo dos movimentos do coração, sístole, diástole, o movimento semelhante ao movimento pulsional das marés", e a voz of lê, de Herberto Helder:

"Se o sul é para trás e o norte é para o lado,
é para sempre a morte.
Agarrado ao volante e pulmões às costas
como um pneu furado,
o poeta pedala o coração transfigurado.
Na memória mais antiga a direcção da morte
é a mesma do amor. E o poeta,
afinal mais mortal do que os outros animais
dá à pata nos pedais para um verão interior."


ritmo, pulsar, olhar, poesia, emoção
está tudo universalmente onde se viva
se queira ver
ser-se capaz

não sei se é coincidência que no mesmo DVD eu tenha colocado o programa sobre montagem e o programa sobre Herberto Helder; sei que estão muito bem

gosto de dar aulas onde aprendo
gostei muito da minha aula de ontem

Pedro

3 comments:

tcl said...

Sei de um rapaz que havia de gostar de ver esse filme sobre montagem. Este ano tem... como se chama? "unidades curriculares" de animação e, imagina... jogos de computador! Será que vais lá fazer uns work shops? Anyway, eras um doce se me arranjasses uma cópia desse filme. Pedinchona eu :-|

Pedro said...

done

se me convidarem para lá dar workshop(s), lá darei :-)

tcl said...

pois não mando nos convites... mas se mandasse, lá estarias!

E thanks :-)