a primeira vez que notei a cor de Outono foi há muito tempo, parece uma eternidade, estava no Porto, tinha seguido para Espinho, para o Cinanima, dado boleia à Luísa, que aproveitou para dar um pulo ao Porto para trazer coisas de casa para Lisboa, pediu-me se podíamos passar no Porto, aquiesci, fomos, e numa avenida qualquer ela mostrou-me a cor das folhas das árvores e disse olha que bonito estas cores de Outono e pela minha expressão ela viu que eu não via e disse-me tu não ligas muito a isto pois não e eu devo ter dito que não, lembro-me de ter dito que não, e desde esse tempo até agora passou um tempo imenso, parece uma eternidade, e a luz de Outono, as cores de Outono, vejo-as, e à janela, ontem, ao fim da tarde, disse em voz alta, olha-me esta luz, e repeti, olha-me esta luz, uma luz que não sei o que tem, é hipnótica, tem uma beleza muito particular, da minha janela vê-se uma colina e alguns prédios pela colina acima, e a luz reflecte-se nas janelas, às vezes vem directa do sol a mim e entra-me adentro pelo quarto e não sei se por mim
que luz vejo hoje é uma luz diferente
que a luz pode ser que seja igual
que os olhos pode ser que sejam diferentes
Pedro