há corpos que não se esquecem por mais que o tempo passe, por mais que as memórias se povoem de outras memórias, por mais que ventos e ares varram pós e pensamentos, por mais que a vida tombe, por mais escadas que subam desçam trambolhem e ajudem a levantar, por mais e mais, há corpos que não se esquecem, a minha filha acabada de nascer, o meu filho acabado de nascer, a crescer o espaço que vivem
e há corpos que não se esquecem por mais que se desconheçam, como num encontro formal oficioso e oficial, da pessoa ao lado um toque inoportuno incoerente cego transitório no pegar da pequena faca para barrar um pouco de manteiga na tosta o cotovelo toca o cotovelo e um choque telúrico aos milhares de volt transita em menos de um milissegundo e parece que é um mundo uma galáxia universos paralelos magnetismo arrebatado partículas subatómicas e um cataclismo de proporções que o acelerador de partículas do CERN não reproduz
há corpos que não se esquecem no desconhecido em que se conhecem no tempo de nunca se terem visto e nunca mais se verem
Pedro
1 comment:
muito bonito este texto
até há corpos que não se esquecem sem nunca terem incorporado
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