2010-10-26


tanto ruído
à procura de silêncio

e encontrado
encontra-se o mundo perdido

o silêncio é um amplificador

do espaço
do tempo
da solidão
da dor

Pedro

2010-10-21


- pai, fazes-me o nó nesta gravata?

pedido do meu irmão
também eu recorro ao mesmo processo

digo
um dia o homem fina-se
e a gente amofina-se

risos

Pedro

2010-10-17


que idade é esta
em que o bater de asas
de uma borboleta
viva
tem menos que ver com poesia
e mais com teoria do caos

Pedro

2010-10-15


o governo prevê
crescimento económico
para 2011

deixa-me rir
que há muito
não chorava

Pedro

2010-10-13


um beijo
um sorriso
quente
o universo

Pedro

2010-10-12


sentes as rodas que tocam a pista
o avião que resvala
de lado
recompõe-se
endireita-se
sentes-te suspirar
ainda não foi desta

Pedro


por entre o ar da nuvem
passei
a caminho
de ti
o ar que me susteve
até me encontrar
para lá de mim
no chão

saí do aeroporto
estavas à porta
não sabes
das minhas saudades

Pedro

2010-10-11


há sempre tempo
até ser tarde demais

Pedro

2010-10-10


a vantagem do tempo
é que é inesgotável

passa
mas não acaba

Pedro


os anjos existem
sabes
porque vejo essa existência
sabes
a beleza infinita que um anjo é
concreta física palpável próxima
quando te toco e envolvo
o momento do paroxismo
o teu rosto no orgasmo

Pedro

2010-10-09


na noite da minha insónia
vi-te
o corpo que dormia
a espaços encostado a mim
as mãos a percorrer-me
as pernas as ancas a pele o sexo
à noite vi
o teu corpo
o desejo vivo

Pedro

2010-10-08


olhar para dentro
longe ou perto
é o conforto de ser dentro
que o faz mais perto

Pedro


olhar a solidão do outro é olhar a solidão própria

Pedro

2010-10-07


passear
as mãos dadas
entre árvores e folhas
o jardim
no olhar o longe
no entre o olhar dos teus olhos
sentir-te
rosto cabelo lábios beijos
sentir-te
desejo
quente o encontro amor

Pedro

2010-10-06


o fim do começo sem fim

Pedro

2010-10-05


como o começo sem fim
tem um fim o começo

Pedro

2010-10-04


escrever é amar
como amar
com tempo
o lento pressa
o vagar vagaroso
o momento instante
o eterno fugaz
o verbo suspenso
a acção subtil
o toque fá-lo
o tempo mil

Pedro

2010-10-03


o governo mente
e de repente
o sol deixou de brilhar
os arautos da desgraça
que não tinham razão
afinal
só tinham razão

não é o governo que vai nu
é o governo demente
que já não desmente
pois que sempre mentiu
e agora mais mente
por mais quanto tempo
oh gente

Manuela, volta
estás perdoada

perdoa-se-te a má pose
a figura pouco abonada
a gaguez de alguns discursos
perdoa-se-te tudo
volta
que não te queria dar razão
mas que Deus me perdoe
és bem capaz de ter razão

"e até não sei, se a certa altura, não é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então, venha a democracia"

esta porcaria precisa de ordem
precisa de quem não mente
de quem não se abotoa
precisa de gente

esta gente
não é boa gente

Pedro


chove
como te odeio
que chove
sem ser ódio
que chove
só porque me atrasas
que chove
e eu sou tão preguiçoso molhado

sair até ao fundo da rua
que é um bom pedaço longe
e pensar que vou e chego molhado
que bela a ideia me parece de não ir

Pedro

2010-10-02


durmo
que ainda acordo
o sabor do teu quente
o corpo que acordo

Pedro