2009-10-31

fotografia


amplio a imagem nítida
na memória lente
de foco saudade

Pedro

2009-10-30

fotografia


quando preto no branco
penso em ti
sonhos a cores

Pedro

2009-10-29

revelação


o banho morno
a tina cheia de meia
suavemente o embalo
do papel memória do tempo
revelas-te imagem
fotografia
que aos poucos te mostras
que imagem em mim
que imagem de ti

Pedro

a tarde a entardecer o dia


anoitece
entre a réstia do dia
feito dia até ser dia
a tarde a entardecer
o tempo de tarde
mais curto o dia

Pedro

2009-10-28

do passado interessa-me o que aprendo, ao futuro entrego-me e aprendo


quantas dores não sofri pelo que fui adentro no que me arrependi pelo que adentro deixei que fosse dor sem saber realmente se era dor pois como saber do desconhecido que só se sabe depois de aprendido

deixado o tempo e a distância correrem correram as águas pela ponte e abaixo dela ao longe a foz de mim em que desaguei enxuto de lágrimas de dores de pensamentos e temores de tudo que fiz à água que lavasse de tudo o que larguei além margens rio acima para lá do sol a nascente e quando me vi disse-me renascido pronto para renascer e devagar tão devagar fiz as margens serem o meu rio por onde naveguei livre pelo leito que me acolhe um peito quente vivo o peito da terra mãe eterna a vida que vivo vivo

Pedro

2009-10-26

no meu tempo


no meu tempo
quero um tempo em que um segundo é um segundo
no meu tempo
quero um tempo em que olhar-te é um olhar
no meu tempo
quero um tempo em que sorrir é sorrir-te
no meu tempo
quero um tempo em que passeio
no meu tempo
um passeio ao teu lado
no teu tempo
o meu

Pedro

2009-10-24

que palavra


entre letras ténue espaço
silêncios que pronuncio

quando me olhares os olhos
ouve o silêncio que digo

Pedro

que palavra


o encontro de letras
pela palavra
é como a vida do beijo

pelos lábios
súbitos húmidos desejos

Pedro

2009-10-22

pedaço pedacinho doce docinho quantos diminutivos com sabor a mais


um pedacinho
dois pedacinhos
mais um pouco de tempo de ti
um pedacinho
dois pedacinhos
mais um pouco de mim em ti

Pedro

partilhar


há partilhas que renascem quando partilhadas,
há partilhas renascidas partilhadas

se parece um estribilho, que seja, talvez seja,
mas é mais do que estribilho

há partilhas
que partilhadas
renascem
para lá do que se partilha
para lá do que se vive
para lá do que se pensa
para lá do que se sente

é que há partilhas
partilhadas
que são amor

Pedro

leve levemente como quem te beija assim


que peso tem o olhar com que me olhas,
o peso do meu olhar em ti?
o peso de uma almofada cheia de plumas
o peso de mil beijos nessas bochechas
mais o peso de carícias em cada uma

Pedro

por mais cinzento que o céu se pinte há sempre réstias e cores


a tristeza faz-me cinza
como se fosse azul
assim um estado blue
como sem norte nem sul

já o silêncio faz-me ouvir
os meus barulhos de dentro
que às vezes são ruído
e às vezes silêncio puro

Pedro

2009-10-20

entre passagem


imensidão tão imensa
como o longe ao fundo
sem do longe ser o fundo
sem no fundo ser longe

imensidão imensa
ao longe ao longe
que fundo ao longe
que fundo que fundo

Pedro

2009-10-19

oh espanto oh espanto!


oh espanto de beleza
esse sorriso de brilho
que o brilho ao teu lado
envergonha-se do teu brilho!

Pedro

quando estás de olhos quase fechados que não vês ou quase não vês


pé ante pé
devagarinho
lábios de beijo
mimo carinho

Pedro

um livro no início



uma página por escrever
com branco todas as cores
tempo para lá de ver
com tempo outras cores

Pedro

2009-10-12

sinto existo amo sinto existo amo-te


ah como é bom
sentir
do teu peito
afagos
como é bom
sentir
dos teus olhos
beijos
como é bom
sentir
nos teus lábios
sonhos
como é bom
sentir-te
em ti
amor

Pedro

dessas águas no caminho


um olhar regresso
regredido
como a ver o triste menino
no caminho à beira-mar
olhar do mar azul ao fundo
vindo do mar o azul profundo

caminhei em direcção a minha mãe
pelo caminho ao lado
apressado passo estugado
livre no tempo o regresso a passo

minha mãe que me pariu
labor de dor inundado
mundo luz espaço cortado
em que laço me fiz liberto

às águas me fiz não refeito
às águas o lanço sem efeito
o mar azul é povoado
de um só soluço afogado

areias marés correntes remos
marinheiro de mim navegado
chego-me o mundo atravessado a ti
anjo luminoso só infinitamente belo

Pedro

2009-10-11

quando quero ver fecho os olhos do olhar


não podes pretender ver com os olhos

iludem-te

cega-te a luz cega-te à luz
e segue a luz que não cegue

o olhar que vês é-te mais olhar
no olhar que vês dos olhos para lá do olhar

Pedro

se vou pela poesia é porque sou cego


não vejo
sou cego
apalpo palavras
como apalpo o vento
entre olhos que vejo
que não vejo olhos
na poesia desconfessos
o tempo regresso
do cego que fui
ao olhar regresso

Pedro

Paris


que Paris amo
como te amo a ti
que amo Paris
como te amo a ti
no intenso do belo
no perdido e belo
tempo em que te amo
como te amo em Paris
como te amo Paris
que te amo a ti
muito mais do que amo Paris

Pedro

ele há coisas que custam nada


recordo as agruras que passamos,
e antes também passámos,
a retocar o último detalhe que ultimo;
e já que falamos disto
lembras-te do que falámos?
no passado, que no presente falamos,
do intérprete que interprete,
ou que publica (de forma privada ou pública?)
o que quer que seja que ele musica,
música a gosto,
pois que no princípio,
umas linhas acima principio,
ou inicio nas linhas do início,
esta espécie de diálogo,
sem saber se dialogo,
para que possamos
sim, possamos, (póssamos não existe),
para que nos possamos
entender, ou quem sabe,
dialogar

não custa nada
é só um acento
um singelo traço só
que faz a diferença
para não se falar só...

Pedro

achegas:
passámos passamos
último ultimo
falámos falamos
intérprete interprete
pública publica
música musica
princípio principio
início inicio
diálogo dialogo
quem quiser que continue a lista...

também dou erros, ai se os dou, e tento não dar; a ouvir e a ler o que se vai escrevendo tento perceber... às vezes é difícil; eu só quero ler e perceber... às vezes é difícil

2009-10-10

a minha voz a tua voz


uma outra
duas
fugazes
palavras
curtas breves
eternas
amor
amor

Pedro

câmara escura fotografia do sentir


em que superfície fixar
as emoções que evocas
senão na tua pele
as imagens que revelamos
o olhar
pálpebras em repouso
a deixar-nos ver
tudo o que sentimos

Pedro

no lento que o tempo é a água mar do tempo mor


quando te afastas de mim há de ti que fica em mim
partículas
partes
pensamentos
instantes
a marulhar-me
a ir-me adentro
até à areia molhada
até à rocha rolada
até à parede falésia
formas diferentes de pedra
pedra a pedra construção
amor

quando te afastas de mim há de ti que fica em mim
que te quero
mais
tu
eu
ser
querer
amor

Pedro

2009-10-09

a pele o rosto o corpo do teu corpo


a pele da mão na pele de todo o corpo que pele é que toca as mãos
os dedos entretecidos por entre filigranas cabelos pestanas anhidamente lábios labialmente próximos do sussurro entre entre
a pele ao de leve

Pedro

mais cedo que tarde


mais cedo que tarde
a folha do livro passa
e a palavra que passa
fica

mais cedo que tarde
a folha transalpina
a folha franciscana
fica

mais cedo que tarde
a saudade à tarde
a vida da tarde
fica

mais cedo que tarde
a febre vai cede
o sorriso breve
fica

mais cedo que tarde
a palavra folha
o vento que passa
fica

Pedro

entre o tempo de um raio de luz


ir por onde
na cor
de um raio de luz
que leve
que traga
a luz de que nasci
onde nasci por aí

nasci por aí
um dia
que fui por aí
a ver que nasci
a ver o aí

estranho
porque nasci aí
que nasci
vivi aí
ai que aí
em que aí não vivi

ir por onde
na cor
de um raio de luz
que aí só
vivi aí
por onde por onde vivi aí

Pedro

2009-10-08

do teu sentido que em mim encontro


todo o teu corpo
início
de fonte
a fonte princípio
espaço letra tempo
da palavra sentido

Pedro

um minuto dois mais minutos todos um a um dois dois minutos mais


olha a palavra que digo no suspiro
breve
curto
tão curto
mais curto que os gemidos
breve
entra
escreve
relê
entre a sensação
prazer
de fazer
ter
gemidos suspiro olha breve

Pedro

sirva-se prove deleite-se comove


é plano
estaticamente
plano
dinâmico
estar,
sirva plano
sirva estar
uma colher e prove

a mulher abre os olhos
devagar
diz nos olhos tudo
e lêem olhos gulosos
o que os olhos dizem tudo

Pedro

de uma noite chegada de início madrugada


a noite passa devagar
entrecortada
por um som estridente
o meio da madrugada

à noite é noite
dorme
brisa
beija o vento que dorme

Pedro

só os lábios nos lábios a respirar enquanto os lábios se tocam


lábios
pele
dedos
mãos,
olhos
orelhas
pescoço
queixo,
peito
colo
umbigo
coxas,
devagar
devagar
devagar
devagar

Pedro

2009-10-07

há alturas em que releio para perder-me encontrado


no que me releio
perco-me

não na memória
não na solidão
não no percurso
da memória

no que me releio
perco-me
pelo caminho
que fiz
que me lembro
de fazer

perco-me
pelo caminho
consciente
que escolhi fazer
feliz porque o fiz
contente porque o fiz
desperdido onde me fiz

Pedro

para um b a bá que não sei o que seja


o sincopado
da palavra
sincopado
faz o ritmo sincopado

que outras palavras
sincopadas
têm ritmo
sincopado
sem serem
sincopadas
parecendo
sincopadas
então sendo
sincopadas
devolutas
sincopadas
renascendo
sincopadas
palavras e mais palavras
a ir e vir
sincopadamente
ritmadas

Pedro

por palavras do olhar


ontem dei uma aula que me soube bem; disciplina (agora diz-se Unidade Curricular) de "som e vídeo para multimédia"; procuro centrar-me na forma de criar conteúdo bom, que a técnica e a tecnologia estejam ao serviço do conteúdo, não o inverso; procuro que o conteúdo seja a prioridade; que conteúdo? o conteúdo universal, a emoção; e por onde anda a emoção no audiovisual? qual o suporte? os olhos, a expressão do olhar; utilizei um vídeo como núcleo da aula, gravei-o da RTP2, chamado "What do Editors do?", escrito por Mark Jonathan Harris, realizado por Wendy Apple; uma delícia; sobre montagem e o que fazem os montadores, com intervenções de Jodie Foster, Spielberg, Zemeckis, Scorsese, Ridley Scott e outros, e uma série infindável e excelente de montadores; com exemplos de Lumière, Edison, Edwin Porter, Dziga Vertov, D.W. Griffith, Eisenstein, uma maravilha de ver e ouvir, analisar, apreciar e pensar... um montador diz "montar é gerir os olhares", outro diz "montar é criar ritmo", outro diz "montar é narrar", outro diz "montar é fazer viver a emoção"

a determinada altura passam este pedaço de monólogo de "Kundun", 1997, escrito por Melissa Mathison e dirigido por Martin Scorsese:

"First, one understands he causes much of his own suffering needlessly.
Second, he looks for the reasons for this in his own life; to look is to have confidence in one's own ability to end the suffering.
Finally, a wish arises to find a path to peace. For all beings desire happiness, all wish to find the pure selfs."

e este monólogo faz-me pensar no livro "O Caminho Menos Percorrido" de Scott Peck

no mesmo DVD tenho gravado um outro programa, sobre Herberto Helder; Paula Morão diz "... porque lendo em voz alta nós percebemos como os textos têm um ritmo que é muito próximo dos movimentos do coração, sístole, diástole, o movimento semelhante ao movimento pulsional das marés", e a voz of lê, de Herberto Helder:

"Se o sul é para trás e o norte é para o lado,
é para sempre a morte.
Agarrado ao volante e pulmões às costas
como um pneu furado,
o poeta pedala o coração transfigurado.
Na memória mais antiga a direcção da morte
é a mesma do amor. E o poeta,
afinal mais mortal do que os outros animais
dá à pata nos pedais para um verão interior."


ritmo, pulsar, olhar, poesia, emoção
está tudo universalmente onde se viva
se queira ver
ser-se capaz

não sei se é coincidência que no mesmo DVD eu tenha colocado o programa sobre montagem e o programa sobre Herberto Helder; sei que estão muito bem

gosto de dar aulas onde aprendo
gostei muito da minha aula de ontem

Pedro

2009-10-06

caminhos


o caminho que percorri
não o conheço
tenho memórias várias
tanto mais vagas
ou firmes
como essa vaga firmeza
conhecida
de ser o caminho percorrido
uma lembrança refeita

à memória peço esforço
se quero saber o caminho percorrido
esse esforço é sofrido,
tem o preço do crescimento

e não sei para onde vou
mesmo sabendo o que quero
sei para onde não vou
porque sei o que quero

Pedro

2009-10-05

shopping lady histerya

shopping lady histerya
click na imagem para ver em grande


ideia da minha filha Susana, desenho do meu filho Eduardo
um trabalho colaborativo, pois então
:-)

Pedro

2009-10-04

uma palavra no tempo e som de ser


da palavra
o tempo
o som
do espaço
o tempo
o som
no tempo
o som
com tempo e só
ser o som
dos teus lábios a dizer-me
amor

Pedro

2009-10-03

um beijo corre quilómetros e chega num instante mas à distância deste beijo de quantos beijos se ressente a saudade?


os teus beijos
meus preferidos
são todos
perto pertinho
ao sol
à sombra
a língua dentro
bem funda em ti
nos lábios
no rosto
nos olhos
pescoço
ombros
braços
pernas
sexo
os meus beijos todos em ti
os teus beijos todos em mim
ah que bons os beijos
que em ti
de ti
me fazem
tantos beijos

Pedro

2009-10-01

de todos os beijos os que prefiro são todos


há os beijos longos
os beijos húmidos
encorpados

há os beijos tontos
os beijos risos
gargalhados

há os beijos todos
os beijos tudo
saudade

Pedro